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quinta-feira, 17 de novembro de 2005

Vidinha
As relações pessoais são commodities. O ciclo de vida nas relações pessoais (leia-se também quantidade e qualidade de “amigos”) assemelha-se cada vez mais ao ciclo de vida de um produto ou mercadoria. Começa por subir de forma titubeante (há excepções), cresce suavemente numa segunda fase (quando a pessoa se está a posicionar num lugar de utilidade), para acentuar a subida quando está a aproximar-se do apogeu da vida (já é administrador, gestor, secretário de estado). Atingido esse ponto, os matemáticos dizem o de derivada zero, a utilidade é máxima e aí os convites, as atenções e etc. (sobretudo os etcs.) são muitos. Descreve depois um arco ogival com a concavidade para baixo (vulgo cambalhota), iniciando a descida, que começa rápida para se atenuar e eternizar depois até compor o lado direito do sino.
Para quem não se dá conta do ponto de inflexão, aqui ficam algumas expressões típicas, comuns na família, nos negócios e nos amigos civis.
“ando há quinze dias para te telefonar, ainda bem que me ligas hoje!”
“estou assoberbada de trabalho, podes ligar-me mais tarde?”
“hoje é segunda, pá desculpa lá mas tenho de ir para conselho!”
“gostava imenso de estar aqui contigo no paleio, mas agora até as chamadas que vêm de fora são controladas!”
“tenho andado numa roda viva entre Lisboa e Porto, não tenho tempo para nada!”
“é pá apanhas-me fora do escritório, não tenho a agenda, telefona à minha secretária para ela ver quando podemos almoçar, mas aviso-te já que este mês vai ser difícil!”
“almoçar é difícil, comecei a comer sandes! Espanhóis, sabes como é!”
“isto foi comprado por americanos estamos num processo de reorganização que deve levar uns meses”
“aos fins de semana vou para fora, tens de lá ir ver aquilo pá, não te dou já a morada porque não a sei de cor, mas é no Alentejo”
“marcamos já isso, pá, para a segunda semana de Janeiro de 2006, claro! Então agora mete-se o Natal”
“hoje é terça, que pena, tenho ginásio...”
“almoçar hoje?! às quartas almoço com os meus filhos, desde que Filó me pôs as malas à porta, o tempo não me chega para nada”
“um copo à tarde, julgas que tenho a tua vida, saio daqui todos os dias às tantas”
“o senhor dr. manda dizer que depois lhe liga”
“só um momento... olhe o senhor dr. está com a porta do gabinete fechada”
“nos tempos mais próximos não dá, ando no psicanalista”
“conversar de quê, já não estás reformado?”

E muitas outras que contrastam com aquelas da rampa ascendente:
“o senhor dr. vai já atendê-lo, mostrei-lhe um post it com o seu nome e por gestos disse-me que vai desligar já”
“não tens tempo? Almoçamos ou já não almoças?”
“sempre tens lá emprego para o meu puto? Desde que te adjudiquei aquele trabalho fiquei a gostar da vossa firma”
“quando é que vamos a Londres ver uma demonstração do software?”
“quero lá saber que me chateiem, tenho direito a falar com os meus amigos!”
“é um bom dia hoje, às segundas nunca marco nada, é a ressaca do fim de semana”
“as terças reservo-as para os amigos”
“temos mesmo de ir a Paris? Importa-se que leve a minha mulher?”
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segunda-feira, 14 de novembro de 2005

Vocês o que fariam?
Muito antes de ter ocorrido a Napoleão esta ideia, já era “Vox Populi” que os dirigentes criavam uma “comissão” quando não queriam solucionar um problema. Os membros da comissão, reconhecidos pela distinção e desejosos de se perpetuarem nela - porque isso dava estatuto - e obrigados, moralmente, a mostrarem os seus extensos conhecimentos sobre o problema objecto da convocatória, dedicavam-se a estudar os antecedentes, a avaliar as repercussões e a analisar à lupa os mais ínfimos detalhes. Entretanto, os dirigentes tinham as mãos livres e... a desculpa de que não estavam em condições de decidir enquanto a comissão não produzisse o seu relatório. Dado o grande êxito da forma napoleónica, todas as semanas se criava uma comissão e em cada lustro, mais coisa menos coisa, se resolvia um problema. Porém, como “progresso das ciências” e para aproveitar as vantagens estratégicas da “indecisão”, hoje já nem se criam as “comissões”. Basta fazer a pergunta aos interessados sobre que decisão tomariam eles face à questão que os atormenta. Isso hoje faz-se, acreditem. E, claro, os interessados reagem como é de esperar, devolvendo uma resposta do tipo: “Diga-me você o que pensa fazer que logo lhe daremos o nosso parecer”.

Abusando de uma ideia de Luís Ignacio PARADA, do jornal ABC de Madrid
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quarta-feira, 9 de novembro de 2005

Jura

Jura que não vais ter uma aventura
Dessas que acontecem numa altura
E depois se desvanecem
Sem lembrança boa ou má
E por isso mesmo se esquecem

Jura que se tiveres uma aventura
Vais contar uma mentira
Com cuidado e com ternura
Vais fazer uma pintura
Com uma tinta qualquer
Que o ciúme é queimadura
Que faz o coração sofrer

Jura que não vais ter uma aventura
Porque eu hei-de estar sempre à altura
De saber
Que a solidão é dura
E o amor é uma fervura
Que a saudade não segura
E a razão não serena
Mas jura que se tiver de ser
Ao menos que valha a pena

Acho que o Rui Veloso e o Carlos Tê estão bem aqui.
Se não gostar leia outra vez.


sexta-feira, 4 de novembro de 2005

Dilema

Vais a conduzir o carro numa noite de tempestade violenta. Passas por uma paragem de autocarro, e vês três pessoas que aguardam o autocarro:

1. Uma senhora idosa com aspecto de quem vai morrer dentro de alguns minutos.
2. Um velho amigo, que uma vez te salvou a vida.
3. A mulher perfeita com que sempre sonhaste.

A qual das pessoas darias boleia, sabendo que apenas podes levar um passageiro no carro? (além do condutor, claro).
Pensa um pouco antes de continuares.
Este é um dilema moral e ético, usado em entrevistas de emprego.
Podes levar a velhinha, porque ela está prestes a morrer, e assim poderias salvá-la;
ou poderias levar o teu velho amigo, porque ele já te salvou a vida, e esta seria a oportunidade perfeita para lhe retribuíres.
No entanto, poderás não voltar a encontrar a pessoa dos teus sonhos.
O candidato que foi contratado (em 200 inscrições) não teve dificuldade em decidir.
O que disse ele?
Simplesmente respondeu: "Dava as chaves do meu carro ao meu velho amigo, e deixava que ele levasse a velhinha ao hospital. Eu ficaria para trás, à espera do autocarro com a mulher dos meus sonhos”.

Transcrito de
http://chamomepatricia.blogs.sapo.pt

Estórias de Consultoria
Num domingo de Novembro de 1998 o consultor está em Nova Iorque. Três da tarde, cerca das vinte horas em Lisboa. Feitos os telefonemas para casa, preparada a intervenção que ia fazer no dia seguinte, sobe ao bar que existe no cimo do hotel. Começa por uma cerveja muito especial, uma Samuel Adams, talvez a cerveja do mundo com melhor paladar e de certeza o caso mais meteórico de sucesso de um produto (6 semanas após o lançamento no mercado alcançou o reconhecimento da melhor cerveja americana num estudo de mercado). Bebe outra. Procura uma mesa rasteira junto às janelas rasgadas sobre os arranha céus da cidade que nunca dorme. Olha e fixa lá longe a estátua da liberdade. A cidade nunca dorme mas ele passa pelas brasas, provável resultado das duas Adams, ou porque a esta hora em Lisboa, já 9 ou 10 da noite, fazia o mesmo no sofá em frente da televisão. Acorda de súbito e não vê a estátua da liberdade, mas sim um pedaço de Central Park e novos arranha céus, “estou mesmo com os copos”, pensa. Só tarde se apercebe que o restaurante do topo do Hotel Marriott de Times Square é giratório, levando cerca de uma hora a fazer uma rotação completa. Pede outra Adams, afinal aguentava bem mais uma.
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