quinta-feira, 29 de junho de 2006
Vamos lá cambada.
A partir de agora as escolas são obrigadas a informarem os pais sobre os programas e planeamento lectivo. Boa medida! Óptima medida! Estes pais, sempre sedentos de informação sobre a vida académica da sua prole, até aqui estavam completamente às escuras. E depois é claro (gato fedorento, dixit) não sabiam às quantas andavam, eles e os filhos. Ah! Mas agora tudo vai ser diferente. Os pais serão informados sobre o currículo das disciplinas, vão ficar a saber a relação entre as aulas previstas e as dadas e, VEJAM SÓ, os professores do 1º ciclo terão de informar os pais como distribuem a carga horária pelas disciplinas. Pergunta: para que serve o Ministério da Educação. No meu tempo era para isto mesmo, por decreto! Passar a bola para os professores é desburocratizar, não é? Ou criar confusão? Estou confuso ou é uma questão de PDI?
Estranho aniversário
Vesti o fato de notário. Azul escuro, coçado nos punhos e, pela acumulação da caspa, luzidio na gola. Vou. Não vou. O gosto de encontrar gente fazia-me pender para ir, mas a recordação ainda muito viva da alienação recente tolheu-me a vontade. Depois o convite era oficial, feito pela mesma entidade que decidiu desfazer-se, de forma pouco elegante, de um número elevado de pessoas que iriam estar no evento. Era como se o carrasco convidasse também as suas vítimas para a comemoração dos seus 50 anos. Pode dizer-se que, enfim, não, o carrasco até tratou bem, enquanto poude, as suas vítimas, e que foi só o executor de uma decisão ditada pelo mais poderoso julgador: o mercado. Ainda que assim fosse, o convívio entre verdugo e guilhotinado é difícil, se não impossível. Não fui.
segunda-feira, 26 de junho de 2006
Simplificando
A persiana fechou-se para sempre.
Ainda bem.
Aquele foi o momento da certeza incontroversa:
Haverá escuro e silêncio até que a matéria se degrade.
Acabou a incerteza permanente
Nascida de cada vez que se abria.
Estará sol? É de dia? É de noite?
Chove?
São agora perguntas sem resposta.
Desnecessárias.
domingo, 4 de junho de 2006
Começa-se por exagerar a notícia. Depois do susto precoce, o interlocutor aceita qualquer contratempo, de menor efeito, com alívio. Faz parte da guerrilha da negociação.
A Ministra diz que os professores vão ser avaliados pelos pais dos alunos. À primeira vista esta parece ser uma boa medida. Mas avaliar o quê, nos professores? A simpatia, não porque há-os entipáticos mas grandes pedagogos. O nível de conhecimento não, porque a maioria dos pais tem uma escolaridade mediocre. Métodos pedagógicos não, porque estes são como as tácticas no futebol, todos as sabemos mas as mais das vezes erramos no resultado. A nota negativa que o menino Zézinho teve também não, porque os papás não abdicaram do fim de semana para o Zézinho estudar as minhocas da biologia, minhocas! E por aí fora. Então de que avaliação se trata?
De nenhuma. Como está em discussão o Estatuto da Carreira Docente, a melhor maneira de assustar a “corja” dos professores é atiçar-lhes o cão de serem avaliados pela populaça. É de resultado garantido, parece verosímil , e custa pouco. Se não assinam atiço-vos o cão!
Um teste aos pais que têm filhos no segundo ciclo ou superior: escrevam numa folha de papel os nomes dos professores dos vossos rebentos. Não os sabem. Por isso nunca poderiam fazer uma avaliação consciente. Nem sequer inconsciente.