<$BlogRSDUrl$>

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Quem não aparece esquece-se
Quem não aparece esquece, diz o adágio. Mas também é verdade que quem não aparece esquece-se. Acabo de verificar isso ao olhar para a mesa do I Fórum do Investidor no Diário Económico de hoje. De todos os ilustres membros lembro-me de um, só um. Os restantes, espanhóis a dominar, são gente recente. Jovens com muito gel no cabelo, ingrediente que faz hoje parte da farda.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007


Estórias da Consultoria
As pessoas hoje não escolhem a empresa onde querem trabalhar. As circunstâncias vão-nas guiando no labirinto da globalização. Que o diga o Galego que veio para Lisboa estudar para o Técnico e acabado o curso iniciou a carreira de informático na Unisys, que em determinada altura lhe diz: "se falas castelhano vais para Madrid", e aí passou a chefiar projectos Oracle. A divisão Oracle da Unisys é entretanto adquirida pela Coopers & Lybrand e o nosso galego passa de técnico engenheiro de software a consultor. Já o nosso consultor era Partner quando esta última se junta à Old Co, onde esteve por pouco tempo, até a Old Co reparar que era muito grande e passou os consultores, a pataco, para a HAL. Ele aí disse: “**da-se, já chega, não quero mais!”. Frase lapidar que ecoou por toda a Ibéria. Saiu do carrossel de mergers and acquisitions, cansado de estar sempre a voltar à estaca zero. Posted by Picasa

Sintomas - 7
Sintoma de que o interlocutor não gosta de falar com plebeus e outros de qualificação obnóxia é mostrado quando alguém lhe é apresentado e ele lança a pergunta mortífera: “Desculpe, é doutor ou engenheiro?”.Que se cuidem os padres, professores, arquitectos, canalizadores, magarefes, polícias, deputados, pedreiros, pintores, banqueiros e os restantes que não sejam doutores ou engenheiros.

Sintomas - 6
Sintoma de que a pessoa já vai passando do prazo de validade: "Olhe tem aqui este lápis flexível, é uma pequena lembrança do nosso Supermercado, as cores que temos são azulão e cor de rosa. Para si não tem grande interesse mas deve ter netinhos na escola, não? É menino? Muito bem tem aqui o azulão".

quarta-feira, 24 de outubro de 2007



Sintomas - 5
Sintoma da amizade que nunca existiu é a dos dois tipos que se encontram casualmente e entre as inúmeras chamadas de telemóvel que cada um atende enquanto o outro seca e sem dizerem nada de substancial rematam com um “temos de nos encontrar num fim de semana destes, quantos anos tem o teu filho? Dezoito anos! já dezoito anos, tchii! a última vez que estivemos juntos no paredão da Costa a tua mulher andava grávida dele. Temos mesmo que nos encontrar. Num fim de semana destes". E desandam a resmungar contra a puta da vida.

Sintomas - 4
Sintoma que deixa o António Lobo Antunes fora de si: "Gostei muito do teu ultimo livro, era grande, de diálogos difíceis, era qualquer coisa Legião, a partir da página 19 não percebi grande coisa do texto mas, olha querido, a capa é linda. Da Caminho, amarela e letras castanhas. Lindo". Ela é mesmo loura.

Sintomas - 3
Sintoma de que não vais ser aumentado. As duas comunicações têm o mesmo resultado mas repare-se que uma é bastante mais abreviada que outra:
"Gostamos muito do seu trabalho, atingiu mesmo os objectivos esperados, a empresa continua a confiar em si, nunca nos passou pela cabeça que não continuasse connosco, a sua performance pode melhorar, por vezes deixou a equipa em roda livre, o cliente não simpatiza particularmente consigo, este ano as receitas estagnaram".
Ou
"És funcionário público!"

Sintomas - 2
Quando se está a passar de jet set para jet less os convite que antes eram do tipo: "Temos o prazer de convidar V.Exa. para o coktail de apresentação da nossa nova colecção que se realizará às 18h00 no Jardim de Inverno do Hotel de Seteais", passam a ser: “A nossa empresa junta um CD com uma apresentação da gama de produtos que poderá adquirir na nossa rede de lojas ou directamente em www.lojanacave.com"

Sintomas - 1
Quando se está a perder influência junto de alguém o sintoma vê-se na resposta evasiva e esquiva: “almoçar? Olha não te consigo dizer agora os dias que tenho livres, esta semana está toda tomada, para a semana vemos isso, mas olha que vou ter uma vida tramada e tem de ser qualquer coisa rápido na minha zona”. Este era o tal que dizia, não há muito tempo: “claro que almoçamos, nem que tenha de cancelar outros compromissos assumidos. Os amigos estão primeiro. Podes amanhã? Depois? Queres que te apanhe no escritório? Temos muito para conversar.”

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Estórias de consultoria
Fui em serviço à Polónia logo após Lech Walesa ter ganho as eleições presidenciais em 1990. O pais organizava-se como podia e usava as infra-estruturas, poucas, que tinha para realizar eventos. Aquele em que estive ocorreu numa sala de Universidade. Entre convidados, professores, alunos e jornalistas estariam mais de 100 pessoas. A capacidade era aí para 30. Não havia conforto mas havia vontade. Naqueles anos não havia ainda nas ruas lojas nem letreiros de marcas estrangeiras. Conseguir um quarto num hotel era tarefa árdua. As amplas avenidas já não serviriam mais para os tanques soviéticos se movimentarem com facilidade, por isso no centro delas eram colocados contentores a servirem de lojas, e mesmo assim ainda sobravam muitas faixas para os poucos automóveis. Do meu contacto conclui que estavam zangados com os europeus, os amigos eram os americanos; talvez isso explique algumas das questãoes que têm colocado nas negociações do novo tratado. O sentimento que se sentia era o de que queriam recuperar o tempo perdido. Estão a recuperar a uma velocidade incrível. Aí está a Polónia a dar cartas.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

A propósito de promessas 

Dias depois de entrar na "Old Co" encontrei casualmente um fulano com quem tinha trabalhado na Tudor. Fora despedido e depois fez-se consultor independente. Pessoa competente, dominava as matérias financeiras, fiscais e contabilisticas. E organizador nato. Os trabalhos que fizemos juntos foram tempos de boa disposição e os resultados tiveram enorme sucesso. Nesse encontro trocámos palavras de circunstância e cartões. À despedida disse-lhe que o cartão serviria, no mínimo, para o contactar para colaborações em que as suas competências seriam de grande utillidade. "Para que queres as minhas competências? não prometas, não vais cumprir". Profecia tautológica. A última vez que soube dele geria com competência uma escola pública de ensino superior de gestão e contabilidade.


quinta-feira, 18 de outubro de 2007



São Leonardo da Galafura. Sítio único de onde se avista o indizível. Onde o entardecer num dia de luminosidade é um momento de grande intimidade. Digo, intimismo. Digo, de intimidação. A surpresa, a diversidade e a grandeza do horizonte deixam marcas. Até externas. Imperdivel.
Posted by Picasa

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Talvez não!
Um CEO dos mais colunáveis da nossa praça é referido, hoje, num jornal semanário, como tendo dito que “há demasiada promiscuidade entre o poder político e os grupos económicos”. O tom convincente com que costuma sublinhar as suas intervenções deixa pouca liberdade para a dúvida.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Abaixo de cão
O homem trata-me dos seguros há um ror de anos e de cada vez que o vejo apresenta sinais de maior degradação. Já junta o queixo com o peito numa escoliose de cisne e de cada seguro e cláusula faz um caso, difícil de entender. Vamos lá ver se as apólices estão em dia. Mas não consigo despedi-lo. Por uma questão de solidariedade, de amizade e de comiseração. Disse-me que está na miséria, que continua a sustentar a filha, solteirona, que vive sozinha com uns cães numa quinta em Palmela. Que não é capaz de inverter a situação. Todo o dinheiro da reforma e dos seguros é entregue à filha, pois a quem haveria de ser? Parar de fazer isso é bom de dizer, como é que ela viveria, ela e os cães? Fala com dificuldade e olhos marejados. Nota-se a exaustão. Não sabe o que vai acontecer à filha e aos cães quando ele se for desta vida. Pergunto-lhe se uma dúzia de cães dão assim tanta despesa e preocupação. Uma dúzia talvez não, diz-me com orgulho, revolta e resignação, mas são 198 animais. 198 bocas a alimentar todos os dias! E ele lá arrasta a existência abaixo de cão para alimentar os 198 da classe dominante

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Tempos Google
A tecnologia está a ir longe na vida das pessoas. Com o rasto deixado por objectos como o cartão de crédito, o cartão de débito, a via verde, o uso do multibanco e umas quantas câmaras espalhadas por ruas, lojas, museus, escolas, auto-estradas, bancos e aeroportos, a reconstituição do dia a dia de qualquer pessoa tornou-se trivial. Junte-se-lhe o telemóvel e a localização que permite cruzando antenas. Pois com toda esta artilharia é possível dizer com uma margem de erro imaterial onde alguém passou as férias, onde dormiu e comeu. Onde fez as compras de Natal. Quanto ganha, quanto gasta e como gasta. Há máquinas fotográficas que localizam cada “disparo” em mapas planetários disponibilizados pela Google, com elevadíssima precisão, no exacto momento em que se tira o “boneco”. Quite fun, isn’t it?

This page is powered by Blogger. Isn't yours? -->