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sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Palavras em jogo
As brincadeiras com palavras são antigas e existem em todas as línguas. São um misto de imaginação e sofisticação. Nas primeiras aulas de francês aprendia-se com alguma candura e malandrice a pronunciar a frase “on voit la mer d’ici”, que dita de forma corrida tem duas interpretações, bem diferentes. Outra frase que aproveita o jogo de palavras, é coisa mais séria, refere-se à campanha napoleónica na Rússia, aquela em que o general Inverno e a fome venceram Napoleão já com Moscovo ocupada. Numa das batalhas um dos generais franceses queria comunicar ao Imperador uma derrota, mas o medo de que a mensagem fosse interceptada pelos russos levou-o a escreveu “le soleil est le plus grand des astres”. Napoleão percebeu, bem, que o seu general lhe comunicava um grande desastre. Menos feliz e bastante deprimente foi a ideia do mecenas de um partido que, usando estas habilidades, subscreveu a dádiva com o nome de jacinto leite capelo rego. Dito com as vogais abertas fecha-se a ideia de ter sido boa coisa para o partido.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Estórias de consultoria. A entrevista
A entrevista, demorada, tinha corrido bem. O entrevistador ainda jovem, quase totalmente calvo, de nome estrangeiro, trocava de vez em quando os tempos dos verbos, para vincar uma referida ligação ao Reino Unido. Mas a pronúncia e as expressões atestavam-lhe a lusitanidade. Cada pergunta acabava com a expressão: eu disto não sei nada, mas o que acha? Truque para o entrevistado se espalhar. Quando no final já havia acordo sobre os fundamentais, acompanhou o candidato ao elevador e nas despedidas foi mortífero: com 36 anos quer mesmo mudar de vida, não é tarde? Estava-se na década de 80 e a pergunta, parecendo descabida e fria era um prenúncio do que viria depois a acontecer ao mercado de trabalho. Ele era um visionário. E como todos os visionários, desalinhado.

Escrita fina II. Hábitos que habituam

É a bica da manhã bebida a sorvos
O semanário que aguarda no saco até ao próximo
A visita à mãe ao domingo
Estar 15 dias na terra do rio em Agosto
Implicar com o que é espanhol
Gostar do que há na Dinamarca
Beber cerveja gelada numa tarde quente
Espevitar caracóis a saber a orégãos
Ver o telejornal para sofrer
Votar naquele partido e ficar reconfortado
Fazer o risco ao lado de lado
Acreditar que o peixe é fresco
Chamar amigo a um crápula
Invocar Deus só se estamos em apuros
Fotografar flores com lente macro
Escrever na areia húmida da vazante da maré.


segunda-feira, 19 de novembro de 2007

A propósito do tempo

Hoje, 19 de Novembro do sétimo ano deste século XXI, parece ter começado o Inverno. Desceu abruptamente a temperatura dos vinte e muitos graus para metade e chove. Das quatro estações que era costume haver passámos a duas: Verão e Inverno. Acabou-se com a Primavera e o Outono. Não serviam para nada, no Outono eram as folhinhas a cair, as tardes mais frias e a encurtarem, o cheiro das castanhas. Coisas de poetas, que coitados estão a ficar desactualizados. Daqui por mais uns anos como é que os miúdos da escola vão entender essa coisa estranha que era o Outono. Estas simplificações dão jeito, foram anuladas as duas estações que só empatavam. Com esta redução de 50% e o forte impacto económico resultante, espera-se que as pessoas comecem a acreditar nas virtudes do Simplex.
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quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Volatilidade
Volatilidade é hoje a grande argumentação dos profissionais da industria financeira para os estampanços das bolsas, acções, obrigações e fundos. O mercado apresenta grande volatilidade, dizem. E pronto está explicado o fenómeno. Que se cuidem as pessoas que têm as suas poupanças no sistema financeiro. É que segundo o dicionário de língua portuguesa, a explicação para o termo vai deixá-las a dormir mal.
volatilidade
s. f.,
qualidade do que é volátil;
disposição dos corpos a passarem ao estado gasoso.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Sintomas- 8
O sintoma de que uma pessoa tem tendência para ditador de segunda é quando um individuo se sente dono do mundo por ser chefe de turma, chefe de quina, administrador de condomínio, pic, ..., e exerce a função com prepotência para baixo e subserviência para cima.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

O que está a mudar
O que é que está a mudar? É frase chave dos marketeers a todo o momento e em qualquer circunstância. E está a mudar muita coisa ao mesmo tempo. Hoje leio que o Nabeiro vai lançar a “Delta Q”, café em cápsulas para aquelas máquinas de desenho arrojado que se têm em casa para a “bica” doméstica. Aqui o que está a mudar é muito mais do que o gosto ou a apresentação do café. Está a mudar o hábito social do encontro na Leitaria da esquina ou na Casa dos Cafés do bairro. Estão a acabar as conversas sobre banalidades, política, futebol, a vida que corre mal ao vizinho. As tertúlias à volta da xícara desse blend de bagas de vários sabores estão nos estertores do desaparecimento. Estas cápsulas de expresso estão para a Leitaria de bairro como a Internet está para a sala de leitura dos clubes populares. É o estilo de vida que está a mudar.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007


Filhos da Nação

Ontem correu-me bem o dia. E ao chegar a casa tinha a cereja em cima do bolo: uma carta da SS comunicava-me que o Complemento Especial de Pensão no valor de 154,14 Euros anual ia ser-me pago! Não cabia em mim de contente: 154,14 Euros! E a carta explicava as razões, o Ministério da Defesa certificava que se devia a 2 anos e 2 meses de antigo combatente em condições especiais de dificuldade ou perigo. Cada dia dos 780 passados com angústia, medo, minas e emboscadas; com mortos e vivos completamente “passados” num dos cus de judas (obrigado Lobo Antunes, pela imagem); em que o isolamento levava a que se os tropas quisessem resolver os diferendos entre si durante a noite recorrendo à G3 e algumas vezes tivesse (eu) de armar em herói e de me atravessar e ordenar que parassem (tive sorte, obedeciam!) . Pois cada dia destes 780, é-me hoje ressarcido a 19 cêntimos por dia. Nem estou em mim de contente!
Voltando ao sério. Escusava a SS de, uma vez por ano e por tão pouco, me avivar o que tanto me tem custado a esquecer.
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