<$BlogRSDUrl$>

terça-feira, 29 de abril de 2008

As novas migrações
Vêm de pantufas, sem alarido, compram quintas e casas afastadas das povoações. De presença discreta e pouco numerosa no Inverno. São os ingleses e holandeses que vivem na montanha das Serras do Açor e da Lousã. São bastante mais no Verão, quando descem às povoações dos vales férteis do Alva e do Mondego. Os habitantes locais já se habituaram à presença dos bárbaros e até os desejam, pelo impulso, mais aparente que real, que dão ao comércio. Os pequenos minimercados e as tascas dos lugarejos inóspitos e a definhar lentamente, escoam os stocks de cerveja e de aguardente gelada nas noites de sexta e de sábado entre de Julho e Setembro. Anónimos, não hostilizam ninguém nem se misturam com os velhos que sofrem com o êxodo dos filhos. Para estes velhos ver gente extravagante, como nunca esperaram ver por ali, é uma compensação para a desertificação, também interior, que os mina.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Avaliação de Professores

Claro que as notícias sobre a complexidade do processo de avaliação de professores são manifestamente exageradas. Penso que o caso mais simples, o da Educação Pré-Escolar é disso exemplo. Veja e conclua.
FICHAS E REGRAS PARA APLICAÇÃO DAS PONDERAÇÕES E DOS PARÂMETROS CLASSIFICATIVOS
Docentes da Educação Pré-Escolar:


Anexo I - AUTO-AVALIAÇÃO
Anexo II - AVALIAÇÃO EFECTUADA PELO COORDENADOR

Anexo XII - AVALIAÇÃO EFECTUADA PELO PRESIDENTE DO CONSELHO EXECUTIVO
Anexo XV - AVALIAÇÃO GLOBAL DO DESEMPENHO


A ficha de auto-avaliação tem 13 items de avaliação
A avaliação efectuada pelo coordenador tem 20 items para avaliação
A avaliação efectuada pelo Presidente do Conselho Executivo tem 20 items de avaliação
A avaliação global do desempenho tem 5 items de avaliação
No total apenas 58 items de avaliação.
Quem disse que era complicado, confuso, trabalhoso e inexequível?


segunda-feira, 21 de abril de 2008

Lamoxa
Entrada casual num dos restaurantes, dos muitos que proliferam na zona do Rato. Lamoxa, chama-se. Desconhecido antes, mal conhecido ficou depois. Típico restaurante galego, com ementa vasta de comida tradicional de qualidade média. Patrão calmo e eficiente guiando com o olhar empregados frenéticos e confusos. À hora de almoço, pontuam bancários e funcionários de seguros, como se adivinha das conversas das mesas vizinhas sem recato. Os arcos mal arquitectados ampliam o eco do que, em surdina, se tece sobre o chefe, sobre as taxas de juro ou sobre o cliente burlão que deve um ano de prémios. No turbilhão barulhento e movimentado, notam-se os solitários que já pertenceram àquelas tribos e que foram arrumados precocemente pelas reformas antecipadas. Petiscam sem convicção o pão de queijo e bebem meia de Monte Velho. Parecem habituais a julgar pela familiaridade usada por empregados e patrão. Parecem ser dos que comparecem para se sentirem parte.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Ler muito e ler rápido
Admiro a facilidade com que o Prof. Marcelo despacha livros na sua charla de adivinho nos domingos à noite. Mas duvido que seja daquela forma que se incutem hábitos de leitura. Descodifico: o homem consegue mesmo ler aquilo tudo e ainda fazer a vida frenética que descreve nos seus apontamentos do semanário Sol?

terça-feira, 8 de abril de 2008

Ainda o subprime
Com recente crise do subprime houve gente – muita gente - que perdeu a casa, outra o dinheiro; outros perderam o emprego e o salário. Os responsáveis pela situação (CEOs, CFOs, e outros Os) foram despedidos, com um castigo adicional de ficarem milionários com as indemnizações recebidas.
Mas as sequelas ainda estão longe do termo, está a germinar uma discussão de contornos indefinidos e de consequências imprevisíveis. Com o desemprego a atingir números que impressionam, nos quadros médios e abaixo deles, será cada vez mais difícil às grandes empresas, sobretudo as cotadas, legitimarem os elevados pacotes remunerativos e as mordomias extra dos quadros superiores. Curiosidade adicional, preocupante e de alguma forma inédita: esta discussão é made in USA.
Posted by Picasa

domingo, 6 de abril de 2008

Um domingo em 1960

Acordavam cedo, aí pelas seis da manhã, iam apanhar o eléctrico no Lumiar, desciam nos Restauradores e a pé alcançavam o cacilheiro. Em Cacilhas um pachorrento autocarro da Beira Rio levava-os até à Cova da Piedade de onde seguiam a pé até à Romeira. Às vezes, no inverno, ainda faziam metade deste percurso de barco, por via das cheias. A chegada, por volta das onze, era aguardada com nervosismo e efusivos cumprimentos. A Balbina ralhava com as filhas por razões fúteis que as faziam amuar. O Ti Zé tinha já voltado da praça, que ficava a alguns quilómetros dali, carregando as hortaliças, as frutas, as carnes e, claro, o berbigão. Os fogareiros de petróleo, dois, trabalhavam ao seu melhor ritmo, espevitados afanosamente pelos anfitriões. Os chegados largavam as malas, trocavam de roupa para evitar azares, descalçavam os sapatos usados quase só naquele dia e causadores de calos e de encravamento de unhas e entravam com energia na escassa e esconsa cozinha ansiosos por ajudar na faina. Na única mesa existente na casa lá estavam os berbigões no mesmo alguidar de alumínio que já teria sido redondo. Esguichavam os berbigões, e quando a água atingia algum dos presentes o gáudio do Ti Zé subia, era a prova de que eram frescos e teria valido a pena fazer aqueles quilómetros de manhã cedo para os conseguir na confusão da praça da Cova da Piedade. As carnes num fogareiro e as hortaliças no outro iam cozendo e excitando o olfacto e quase criando aftas na boca mais seca à medida que o tempo passava. Pelas duas e tal da tarde as travessas de cores desmaiadas, atulhadas das iguarias, eram dispostas na exígua mesa onde os seis visitantes e os quatro anfitriões se arrumavam a esmo. Pantagruel não faria melhor. O cozido era saboreado sem pressas e o garrafão ia andando à volta, fazendo subir o tom da conversa nos temas e nos decibéis. A Balbina continuava a ralhar, ora com a Alice ora coma Gina. As miúdas choravam de vergonha. O Ti Zé, chamava de Bina e Binaca à Balbina e ria dos ralhares da mulher. E as discussões lá iam para o Sporting, para o Travassos que com o Juca faziam um par de avançados incomparável. Para o Arsenal do Alfeite e para os marinheiros presos, por causa dos quais circulava um peditório na Sociedade da Romeira para as famílias. Para o Manel, aquele desgraçado que podia estar tão bem na vida mas não quer trabalhar, andou na cortiça e foi-se meter outra vez em Vila Pouca. Feito o inventário dos assuntos, eram cinco e tal da tarde, lavavam e arrumavam a loiça, por partes que era muita. A Balbina dava uma tareia em cada miúda, porque tinham saído sem licença, com visitas em casa. Assim continuavam a chorar. Os visitantes repunham as vestimentas de saída, e pelas oito da noite começavam as despedidas, na praça da Romeira para que a vizinhança visse que a família era grande e unida. Secadas as lágrimas os que não eram de lá andavam sem entusiasmo o caminho de volta, para chegar à Charneca por volta da meia-noite. Ficava um cansaço de felicidade e a vontade de repetir a visita aos tios da Cova da Piedade.


sexta-feira, 4 de abril de 2008

Quando tudo corre bem

Acabou a guerra no Iraque
O Kosovo tornou-se independente e a Sérvia fez manifestações de júbilo
Os talibãs vivem hoje em paz
A crise nos USA não chegou a declarar-se
A UE está a crescer a 5% ao ano
Deixou de ver-se a cena do telemóvel da Carolina de Michaelis na televisão
O preço do petróleo tem vindo a baixar
A economia portuguesa atingiu o pleno emprego
O PIB nacional cresce, cresce
Não há inflação
O Papa deixou de cometer gafes envolvendo árabes
Aquilo do BCP provou-se que não existiu
Idem, com o apito dourado
A Ministra da Educação almoçou com o SPGL
A semana santa foi Santa
A Páscoa foi da Ressurreição

Vou falar de quê?
Posted by Picasa

This page is powered by Blogger. Isn't yours? -->