segunda-feira, 30 de junho de 2008
A new approach
Nova moda para reuniões de trabalho: piscina de hotéis de luxo. O boss de camisinha leve, óculos escuros, bebidas frescas e à sombra. O consultor, fato, gravata, bloco de notas e muita pachorra. Os banhistas a olharem a cena com um misto de pena e gozo.
sábado, 28 de junho de 2008
Uma cadeia confusa
Ser escritor profissional é difícil neste país. Os direitos de autor é coisa que ninguém sabe explicar como funciona. O autor é pago de acordo com o preço de capa de um livro? Claro. E quando há saldos, a regra mantém-se? Bom aí é diferente, claro que vale o preço de factura! E quando o livro passa para o segundo mercado, o mercado das vendas de rua, das gares de comboios, das festas de paróquia, como é? Lá está o complicómetro ligado; bom, vale sempre o contrato entre o escritor e o editor. Como, se quem vende são livrarias e grupos livreiros; como é que o editor controla as vendas? Autores uni-vos!
quinta-feira, 26 de junho de 2008
Faz de Conta
Faz de conta que o ensino funciona. Encharca-se os professores de papeis, passam oito horas diárias na escola, não ensinam nada, mas os exames são benignos;
Faz de conta que há habitação para todos. Há, nas estatísticas, mais de 2 casas per capita; mas também há 240 mil casas devolutas na Lisboa cidade;
Faz de conta que há infra-estruturas indispensáveis a serem construídas para o crescimento económico. O TGV para o Porto dá um ganho de minutos sobre o Alfa. Para Madrid a linha fica em Elvas porque Espanha não acha prioritário o troço Badajoz - Madrid. Da nova ponte já não se fala. E o aeroporto actual é capaz de sobrar porque viajar vai ser mais raro porque caro;
Faz de conta que a reforma está assegurada para quem fez ou está a fazer os devidos descontos. A ligação da pensão ao PIB penaliza-a, por lei, quando este cresce pouco. A erosão monetária faz o resto;
quarta-feira, 18 de junho de 2008
Penso vezes sem conta na sorte dos mais de 150 soldados naturais de lá que serviram a meu lado na CCaç 206 do nosso exército. O meu guarda-costas, sombra de mim e incansável na arrumação e na limpeza do que era o sitio onde eu dormia e dos parcos haveres que me acompanhavam num caixote de pau-rosa, do Huambo ao Luena; o que terá sido feito dele? E do Levú Cambuela meu carregador e caminheiro, que me aliviava até do peso da G3 e que me orientava tanto nas amplas chanas como nas florestas densas, sempre truculento e sorridente? E do Soba do Cassai que aos domingos se apresentava de farda e chapéu colonial, com as medalhas alinhadas sobre a pala do bolso esquerdo do dólmen coçado para partilhar umas cervejas do “nosso Arfere”. E do Gueve, Alferes negro, corpulento, dentes alvos, que saiu do Seminário para o curso de Oficiais, deste curso para a guerra do Leste no exército português, e do exército português para um dos exércitos que se envolveram durante décadas no turbilhão da guerra civil, como Oficial Superior. Vem a propósito de quê este post?
terça-feira, 17 de junho de 2008
Susto
Sai-me do escuro no piso menos dois de um estacionamento, quando eu ainda fechava o carro. Vejo-lhe os dentes de riso. Estou fo**do, é um assalto e não há aqui mais ninguém para me ajudar, penso. Persiste no riso estampado na cara larga encimada por um cabelo vassoura sobre testa alta, tipo pai Simpson. Aproxima-se lentamente. Uff, reconheço a peça quando passa sob uma das raras lâmpadas em funcionamento. Respiro fundo, não é assaltante é um dos meus tempos HAL. Estava por ali a fazer tempo entre o turno da tarde, uma aula de inglês da descendente e o turno da noite. Um susto gratuito, como outros que vamos experimentando nestes tempos de chumbo.
quinta-feira, 12 de junho de 2008
Tourada
Não importa sol ou sombra
camarotes ou barreiras
toureamos ombro a ombro
as feras.
Ninguém nos leva ao engano
toureamos mano a mano
só nos podem causar dano
espera.
Entram guizos chocas e capotes
e mantilhas pretas
entram espadas chifres e derrotes
e alguns poetas
entram bravos cravos e dichotes
porque tudo o mais
são tretas.
Entram vacas depois dos forcados
que não pegam nada.
Soam brados e olés dos nabos
que não pagam nada
e só ficam os peões de brega
cuja profissão
não pega.
Com bandarilhas de esperança
afugentamos a fera
estamos na praça
da Primavera.
Nós vamos pegar o mundo
pelos cornos da desgraça
e fazermos da tristeza
graça.
Entram velhas doidas e turistas
entram excursões
entram benefícios e cronistas
entram aldrabões
entram marialvas e coristas
entram galifões
de crista.
Entram cavaleiros à garupa
do seu heroísmo
entra aquela música maluca
do passodoblismo
entra a aficionada e a caduca
mais o snobismo
e cismo...
Entram empresários moralistas
entram frustrações
entram antiquários e fadistas
e contradições
e entra muito dólar muita gente
que dá lucro as milhões.
E diz o inteligente
que acabaram as canções.
in SANTOS, Ary dos, As Palavras das Cantigas.
segunda-feira, 9 de junho de 2008
Futebol
Ah! Temos o futebol para alegria de muita gente. Não me refiro apenas aos jogadores e adeptos do desporto, mas sobretudo aos muitos envolvidos no business. A cadeia de valor desta indústria é difícil de estabelecer, há elos esbatidos a ligar pontos muito nítidos.
quarta-feira, 4 de junho de 2008
segunda-feira, 2 de junho de 2008
Coincidência ou consequência
Encontro anual de antigos militares de uma companhia de infantaria do Leste de Angola dos anos de 1972 a 1974, ontem. Altura de reencontro de gente que ultrapassou o medo e contornou o azar. Novidade surpreendente: saber, ao fim de todos estes anos, que o empregado da messe de oficiais e sargentos era membro da guerrilha. No regresso do encontro, vieram-me à memória conversas e cumplicidades tidas com ele, com à-vontade escancarado, às vezes depois e por causa do etílico de umas Cucas, cerveja de então, outras para vencer a insónia das lentas e nem sempre amistosas noites de África. Em jeito de posfácio digo que foram raros os confrontos que tive com grupos da guerrilha. Coincidência ou consequência.