MARDUQUE

A nuvem vulcânica parece avançar silenciosamente sobre zonas insuspeitáveis. Onde dantes o dia se apresentava com grande claridade ficou de súbito cinzento a pender para negro, como se de um eclipse se tratasse. Ninguém é dono das circunstâncias embora alguns pensem o contrário e convém recordar um lugar-comum: foi desde sempre trágico confundir a mensagem com o mensageiro. Nada melhor para ilustrar esta ideia do que usar um exemplo do quotidiano. O apresentador do boletim meteorológico não é o responsável pela previsão do tempo que anuncia; e se por leviandade ou interesse próprio anunciar para os próximos tempo radiosos dias e temperaturas de canícula em vez da chuva que o anticiclone dos Açores já está a arrastar, pode provocar uma corrida aos biquínis e gerar uma subida no consumo; mas da próxima ninguém acreditará nas previsões (ou provisões?) estando, talvez inconscientemente na origem das imparidades entre a realidade e o comportamento.

Dizia-se que sobre nós pairava há algum tempo uma nuvem negra que não nos deixava ver com clareza os caminhos do futuro. E por essa razão lá ficámos abúlicos e lerdos, tristes, como eufemísticamente nos catalogam os outros europeus. Afinal foi tudo prematuro e não compensa reagir antes de tempo. Após essa nuvem negra que tanto nos condicionou, eis que uma outra nuvem ainda pior se veio pespegar no que em tempos era o azulinho céu deste país: uma nuvem vulcânica, com poeiras e cinzas para nos arreliar e deprimir ainda mais. Bem pode o ministro das finanças insinuar que nos aumenta os impostos e nos reduz os ordenados, já nada nos molesta. O vulcão veio ajudar. Belzebu já nada pode ao pé do Eyjafjallajoekull.

O Tarari estava a ser sobrestimado. Afinal as bolsas caiem até por erros que não se explicam. Uma queda acentuada hoje em Nova Iorque teve origem num erro humano, ao que se sabe. Esse erro desencadeou ordens de venda executadas automaticamente por programas informáticos. Estava criado o caos. Desce o euro, desce o petróleo, caem as outras bolsas. Estamos no reino da irracionalidade. Mas "foi o Tarari que partiu o vidro", não se esqueçam.