Férias a chegarem ao fim. Foi bom rever sítios, amigos, família e ler um bocadinho mais do que o normal. Tempo para mastigar as palavras e os textos, como esta passagem do livro "Meia-Noite ou o Principio do Mundo", de Richard Zimler:
- Não esperes nada de ninguém, filho. Assim nunca te sentirás desapontado.
- Papá? Papá, o que é que se passa?
- Ouve-me com atenção, filho. Não esperes nada. Pois embora possas, se tiveres sorte, conseguir alguma ajuda na tua vida, ela não virá das pessoas de quem mais esperavas. Elas desapontar-te-ão quase sempre. Dou-te um conselho: nunca te esqueças que as pessoas são uns pequenos biltres, filho. Tanto na Grã-Bretanha como em Portugal. – Apertou-me o pé por cima dos cobertores. – Ouve-me bem, rapaz! Faz sempre aquilo que precisares de fazer. Trabalha sempre muito. Sê egoísta se o tiveres de ser. E não contes com ninguém. Ninguém!
Sabia que era assim, mas é reconfortante ouvi-lo de outros.
A festa previsível
Prometia ser como um casamento italiano e foi. No adro da igreja juntavam-se mais convidados e mirones do que dentro. O corrupio de entradas e saídas do templo era de deixar crentes e não crrentes de nervos em franja. E havia quem mandasse na cerimónia e dialogasse com o padre como um verdadeiro padrinho. No final a devassa do sagrado com fotografias e filmes nas poses deles, com a mão no ombro, junto ao altar, com a mão na mão, com o olhar para cima e para baixo seguido de mais fotografias com quem regateava, junto às escadas, junto ao coro, à porta, no púlpito e junto às flores, lindas, brancas com uma ramada verde, sóbria. E quase noites onde é o jantar perguntavam os que aceleraram para o sítio dos comes em completa correria descoordenada num dia de quase quarenta graus. Os rapazes amigos do rapaz gritavam coisas guerreiras. As raparigas amigas da rapariga flauteavam uns ditos de estudantes que foram há anos. E as lágrimas e os nervos dos mais chegados. E já escuro o banquete organizado por mesas de gente com afinidades. Os altos os de bigode os guerreiros os de cá e os de lá. E ao baile com musica para cotas até às tantas e coisas para chavalos depois juntaram-se os que queriam mostrar que não cediam ao cansaço. E houve prendas para quem resistiu até ao dia seguinte. E também houve bronca. Foi um casamento italiano. Um delírio de encantamento.