domingo, 28 de novembro de 2010
Temos de agradecer à natureza a beleza das cores. E às flores e aos frutos a diversidade cromática.
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
Os Amigos
No
regresso encontrei aqueles
que haviam estendido o sedento corpo
sobre infindáveis areias
tinham os gestos lentos das feras amansadas
e o mar iluminava-lhes as máscaras
esculpidas pelo dedo errante da noite
prendiam sóis nos cabelos entrançados
lentamente
moldavam o rosto lívido como um osso
mas estavam vivos quando lhes toquei
depois
a solidão transformou-os de novo em dor
e nenhum quis pernoitar na respiração
do lume
ofereci-lhes mel e ensinei-os a escutar
a flor que murcha no estremecer da luz
levei-os comigo
até onde o perfume insensato de um poema
os transmudou em remota e resignada ausência
Al Berto |
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
CRM fregueses felizes
Interessante sitio da internet este que trata de tudo o que há no mundo do CRM. Claro que o merceeiro da Calçada do Tojal - olhinho vesgo, lápis atrás da orelha de onde saía para fazer as contas no papel pardo dos cartuchos que serviam para o arroz, a massa ou o açúcar -, sabia que para o negócio prosperar os fregueses têm de ser conquistados, apaparicados e retidos. Por isso pelo Natal oferecia uma garrafa de vinho do Porto aos seus clientes mais dilectos. Presente para ele de rápido retorno nas compras que todas as tardes de sábado os fregueses faziam, com paciência de jó. Busca cartucho, enche-o do feijão a granel, pesa-o na balança nervosa, saca o lápis da orelha, anota mais esta parcela, e segue-se o arroz, e a massa, e o resto. CRM, gestão do relacionamento com os clientes.
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
Pedro galo
Pede um empréstimo para se aguentar no dia-a-dia. Compra pão, batatas, azeite, coisas assim. O dinheiro não dá para pôr algum no banco e mesmo que desse o juro conseguido seria inferior ao do crédito. As actividades biscateiras a que se dedica não dão para viver; gasto estes cobres volta a pedir novo empréstimo, para pagar o primeiro e tentar manter-se à tona. Dura pouco este dinheiro e usando toda a argumentação e amizades consegue um terceiro empréstimo com juros de usura. E a espiral vai crescendo: empréstimo, juro, empréstimo. Toma uma decisão drástica corta no azeite, compra a crédito menos batatas, vai-se ficando pelo pão. Corre rápida a notícia de que está falido. Os emprestadores surpresos deixam de lhe emprestar. Toma nova decisão corajosa: corta no pão. Decisão patética. Exausto e exaurido deixa-se abater finalmente. O 112 chega com atraso sem médico, sem soro, sem maca e conduzido por um gordo mal-humorado que protesta: "indigentes que só atrapalham o serviço!".