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sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Abrantes cidade florida
Já lá vão quatro décadas desde a minha mais demorada estadia em Abrantes. Quase um ano foi o tempo que por lá passei. Era uma cidade, então, desinteressante, parada no tempo, daquelas em que se diz, neste caso com algum exagero, que o melhor que tem é o comboio para Lisboa. Vivia a cidade, nos anos 70, em grande medida, dos muitos militares que lá estacionavam em formação para as guerras de África. À falta de uma qualquer característica diferenciadora o SNI, organismo que se ocupava da propaganda e do turismo nacionais durante o regime do Estado Novo, arranjou-lhe o epíteto de Cidade Florida. E aconselhava os moradores a enfeitarem as ruas e janelas com flores de cores vivas e de preferência de folha perene. Passei hoje por lá, ou antes queria passar por lá lá, e foi um susto. De Alferrarede sai agora uma estrada que circunda Abrantes, na planície vizinha do Tejo, direita ao Rossio, logo se segue Arrifana e, ala que se faz tarde, chega-se num ápice à estrada para Ponte de Sor. Quem abandona a A23 na saída 10 olha só de longe o Castelo e o abundante casario que ocupa os antigos olivais que preenchiam a encosta de Alferrarede a Abrantes. Alferrarede que tinha inúmeras casas senhorias e vivendas de azulejo a bordejar a estrada que a cortejava, "modernizou-se"; passou a ter supermercados de dimensões anacrónicas e ao lado de edifícios da nova vaga, tipo caixotes ao alto, deixa definhar as antigas moradias e quintas. A dominar a paisagem, estão as duas chaminés de proporções novaiorquinas da Central do Pego. De Abrantes cidade que foi florida nem cheiro. E o que deixa ver, nesta abordagem, é deveras pouco estimulante para convencer o passante apressado a parar.
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quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Vila de Avô
Na vila de Avô os dias de Agosto passam calmos beneficiando da temperatura amena do ar. O rio Alva leva águas quentes e cristalinas e o café do Monas é poiso certo para a cerveja fresca nos fins de tarde. O Largo da Senhora dos Anjos está ainda engalanada no rescaldo da festa da dita Senhora. Foi a 15. As antigas flores de papel são agora bandeirinhas de plástico, às cores, com a vantagem de poderem ser reutilizadas para o ano, mas com a grande desvantagem de prescindirem das noitadas da rapaziada que fazia com esmero flores diversas em papel de seda, atadas em série e dispostas, depois, desde a capela até ao Irol e às vezes até mais longe, até junto à ponte da Farmácia. Os veraneantes actualizam as leituras. Os livros são para metade do tempo e as conversas sobre tudo e nada para a outra metade. Nas tardes quentes à beira do rio, lê-se e fala-se. Também se nada. Agora com colónia inglesa a engrossar a população local que vai escasseando. Na Vila de Avô os dias decorrem. Decorem. Corem.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Lisboa em Agosto
Agosto em Lisboa é um gosto a gosto que já não saboreava há muitos Agostos. Ruas por nossa conta, sítios para estacionar, museus sem filas, transportes a horas, restaurantes vazios e até empregados mais atenciosos, mais prestáveis e a darem sugestões. As livrarias que fecham tarde são sítios de puro prazer, onde se folheiam as últimas novidades, que vão de Mário Soares à "light" Margarida Rebelo Pinto. Um café sabe a café e a Avenida de Roma ganha a nobreza de outrora com as senhoras, agora mais idosas, a darem-se ares e ar ao cão. E pronto. É Agosto gostoso em Lisboa acolhedora. Uma das cidades mais envolventes e ternas dos verões que conheço.

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