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segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Conversa sobre cachuchos 

Comi cachuchos. Só por si não quer dizer nada, e no entanto tem um significado emocional forte para mim. O cachucho era peixe de pobre, tal como o chicharro e a sarda; difícil de conservar ganhava fénico rapidamente. Frito comia-se, mesmo com fénico.  Quando já não o conseguia vender, a minha vizinha Piedade Barbuda, peixeira de canastra à cabeça, dava-o lá para casa. Frequentemente. Muito frequentemente. Por isso quando havia cachucho era dia de zanga, pelo cheiro e pela bola de espinhas em que transformava. As crianças lidam mal com as espinhas. E contudo o reencontro de hoje resultou bem, ele cativou-me pela frescura,  sabor e apresentação; eu passei uma esponja sobre a memória que tinha dos restos remelosos que vinham em mau estado da Piedade Barbuda. É certo que o arroz de berbigão ajudou à reconciliação. Quase meio século depois.  Nunca é tarde. 

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Mercados. iupi! 


Ele há dois mundos neste mundo. O mundo dos que se fazem acontecer as coisas, transformar o labor em bens e serviços; e o mundo dos que pairam sobre esta camada frutica que foram ontem os bacharéis e que são hoje os financeiros e quejandos. A linha que separa estes mundos é a que separa a economia da finança. O Eça dizia pela boca do conde Abranhos, um conde bronco que teve a vidinha facilitada o que  este poderia hoje dizer sobre o retorno aos mercados: foi um sucesso português. Sem especificar se para os bacharéis se para os fruticas. Eça usa em conde de Abranhos a designação depreciativa frutica, qualificativo que os estudantes de Coimbra davam aos trabalhadores das classes pobres: "...Bacharéis são os políticos, os oradores, os poetas... Futricas são os carpinteiros, os trolhas, os cigarreiros..." (Eça de Queirós, O conde de Abranhos)


terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Ó cidente 


Isto está para durar, isto da crise. Todas a crises levam tempo, deixam mossa e raramente a recuperação é total. Assemelha-se a uma pessoa que foi colhida por um automóvel, deu uma série de voltas no ar, cai com estridência na estrada e, para dar mais força à estória, ainda lhe passam mais uns quantos carros por cima, os que vinham atrás do causador do acidente. Recuperada a custo de muita transfusão, operações aos órgãos afectados, de recomposições plásticas, a pessoa, ficou a ver mal, ficou a coxear de uma das pernas, os braços deixaram de cumprir alguns dos movimentos e a cara é  montra do que aconteceu, nariz ao lado, queixos com bordados e os olhos afundados  deixaram de ter brilho. Isto 5 anos depois do atropelamento do incauto transeunte que, na opinião dos mirones, iria ficar bom em poucos dias..

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Reno suiço 


É interessante seguir o Reno pelos vários países do centro da Europa por onde passa; aí meia dúzia. Objecto de cobiça deu azo e esteve no centro de disputas e guerras ao longo da história. Mas será difícil encontrar sitio banhado por ele com mais beleza do que Stein am Rhein, na Suíça onde nasce. Conhecia-o de Bona e da linha de combóio que o contorna a caminho de Fankfurt. Paisagem soberba esta, mas nada que se compare à da pequena vila suiça de Stein am Rhein. Há dias frios que passam na brasa.



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