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quarta-feira, 27 de março de 2013

Um filme 


O “comboio nocturno para Lisboa” é um filme que se vê com agrado por várias razões.  Uma, o filme mostra uma Lisboa na perspectiva do olhar cinéfilo, dando boa conta da luz que a torna numa cidade única. Depois Jeremy Irons é um artista que acrescenta muito ao filme, que contando uma estória densa correria o risco de se tornar numa estopada não fora a prestação deste irlandês que já nos deixou boas recordações na série televisiva “Brideshead Revisited”, há um bom par de anos. Por fim a narrativa do filme, um pouco filosófica sobre os últimos anos da ditadura em Portugal. As últimas  falas do filme são de registar “… deixamos nos lugares por onde passamos um bocado da nossa vida, daí a enorme vontade de lá voltarmos, e quando acontece é como voltarmos a viver...”. É qualquer coisa assim; mas cito de cor. 

sexta-feira, 15 de março de 2013

Subserviência  


Os restaurantes estão agora vazios ao almoço. Tristemente vazios. Os empregados, são menos e atropelam-se para servir os poucos comensais que em dia de festa aparecem. As conversas já não se cruzam babilonicamente como era hábito e mesmo as sussurradas  ouvem-se claramente.  Não sou cusca, mas era impossível não ouvir os da mesa afastada, dois de fato cinzento e gravata grená, tipo angariador da IURD ou das Testemunhas de Jeová. O diálogo é incontável:
- Tive uma chatice com o boss quando disse que vinha almoçar contigo.
- Mas tiveste de dizer-lhe que vinhas almoçar comigo?
- Claro, digo tudo ao meu boss, sou uma pessoa de fidelidades.
- O que é que um almoço tem que ver com fidelidades?
- É pá és da concorrência, o boss até tem razão, afinal acabamos sempre por falar de temas sensíveis.
- Não me digas que lhe vais contar as nossas conversas, sempre pensei que guardavas para ti o que falamos.
- É pá já te disse que sou de fidelidades e muito mais aos meus amos. Para além disso ele vê os números de telefone na factura do telemóvel. Mensalmente  ele recebe o detalhe da factura  e o teu número aparece muito. Antecipando-me com as explicações, evito chatices.
- Vai pentear macacos!  – atirou o guardanapo à cara do outro, levantou-se e saiu. Lívido,  em passo rápido. 


segunda-feira, 11 de março de 2013

Inverno rigoroso  



Este inverno está a fazer jus à definição que há uns quantos anos se ensinava sobre as estações do ano. Só que a chuva em vez  de persistente e distribuída cai com raiva e força em meias horas ou em menos tempo ainda. Também os elementos da natureza estão a mudar. 

domingo, 10 de março de 2013

Tudo pelo orçamento 


Era inevitável vir à discussão. O choque de gerações por causa dos cheques de dinheiro que não há.  Uma discussão entre reformados  e activos suscitada pelo poder. Os políticos dizem que os reformados são muitos,  que têm pensões elevadas; questão que urge resolver porque o orçamento de estado não comporta despesa tão elevada e temos os credores à perna.
Esta afirmação propalada à exaustão suscita desde logo a anuência dos activos que se acham injustiçados por suportarem as pensões ditas milionárias desses que nada fazem e que são a causa dos aumentos dos seus impostos. Os pensionistas sentem-se enganados e objectos descartáveis, porque a grande maioria tem pensões da treta e para as ter fez descontos durante a  vida activa; insuficientes dizem os jovens liberais. Nem os políticos, nem os activos, nem os reformados contam a estória toda. Os políticos não dizem que se foram aos valores descontados em tempo, destinados e consignados às actuais reformas,  e deram-lhe outros destinos; os activos porque desconhecendo que o sistema era assim, não sabem que a massa destinada aos velhos foi utilizada em “coisas” do que é hoje o país;  os reformados, bom, há-os com pensões realmente elevadas, mas a maioria nem tanto; e  de entre os de pensões elevadas há-os que fizeram para isso,  descontando parcelas  importantes, e os que tiveram “equivalências”. Estes últimos não serão nunca molestados. Vamos à solução final.
Só há uma solução para os problemas da subsistência, agora diz-se sustentabilidade, nacional: deixar morrer os pensionistas (se for preciso maior pro-actividade logo se urdirá um plano B), essa casta que recebe e nada faz. Assim se contribuirá de forma decisiva para o equilíbrio do orçamento, para a contracção da dívida pública e, ainda, para a baixa dos juros e dos impostos. Voilà!  Sugiro mais,  para se resolver a questão de forma definitiva nem deveremos poupar os mortos. Os cemitérios dariam óptimos condomínios e o que se gasta em manutenção do panteão nacional e em mausoléus e semelhantes poderão ser poupanças que não são de menosprezar. Tudo pelo orçamento,  nada contra o orçamento.

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