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domingo, 25 de janeiro de 2015

Mudar de sitius 


Vamos lá encontrar o culpado pelo desaire que já foi. Quem manda decidiu mudar de casa, e na nova casa juntar todos os familiares. A mobília de cada grupo de familiares era muita sendo necessário preservá-la, toda. Nomearam-se grupos de trabalho: uns tratavam dos pontos relativos à nova morada, outros das casas velhas, como arrumá-las, outros da mudança. Quase todos os detalhes foram tidos em conta, planeados, anunciados aos interessados e divulgados a quem aproveitavam. As casas velhas eram todas de rés-do-chão. A casa nova, que iria receber tudo e todos, era num oitavo andar, suficientemente espaçosa para albergar tudo e todos. Dava dignidade à família.
Chegou então o dia das mudanças. Convocaram-se todas as pessoas necessárias, mesmo as de férias, era Agosto. E num ápice os pertences que estavam dispersos chegaram, em simultâneo, ao novo edifício. A coisa corria de feição. De repente...
Pânico! Os elevadores do edifício eram estreitos, desadequados às medidas das bicuatas que chegavam em catadupa. As ruas de acesso ao edifício logo ficaram pejadas de pechicés, mesas, cadeiras, penicos, camas e toda a sorte de outras inutilidades que se multiplicam quando se desarrumam de onde estavam. Mas, azar dos azares, ninguém se lembrou dos elevadores, indispensaveis para elevar as tralhas até ao oitavo. Quem foi que deixou escapar esta parte, quando tudo estava supostamente tão bem antecipado, previsto e afecto a cada membro do organograma?
Rebenta uma portuguesissima discussão. Logo se concluiu que os culpados foram os porteiros. Claro, deveriam ter alertado os da logística e os responsáveis e os chefes das famílias e os transportadores e mais, o coordenador, que tanto tinha confiado em todos. Traição, pois se ninguém os chamou ao planeamento deveriam ter sido eles a fazerem-se ouvir. Mulas, fizeram-se despercebidos.
Solução precisa-se porque urge arrumar os tarecos espalhados pela rua, sinal de que a coisa não correu bem. Encontrada logo. Habitar já  o oitavo sem mobília enquanto se fará lá chegar os cómodos, móvel a móvel, pela escada, trabalhando 24 horas por dia. Feitas as contas, ao fim de um par de anos estarará tudo arrumado. E, claro despedir inexoravelmente os porteiros.
A solução sai coxa, não podia ser. A alternativa vem lesta, levam-se algumas mobílias, as possiveis, e os respectivos ocupantes podem, assim, instalar-se provisoriamente e com as luzes acesas dão um ar de normalidade. Já. Entretanto nomeia-se uma comissão para substituir os elevadores.
Meses depois: com os novos elevadores foi possível transportar grande parte da mobília. Despediram-se os responsáveis importantes da mudança que não tiveram mão nos porteiros. Alguns dos moradores ainda não têm tudo o que precisam, mas podem ir às sobras à procura do que é mais urgente. Há ainda móveis  espalhados pela nobre entrada do edifício novo. Mas na confusão de tanto movimento isso é um detalhe. 
Mural da estória (está no muro): nunca descures os elevadores.
Moral da história: pensa primeiro e muda depois.
Oral de história: não confundas gestão de mudanças com change management.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Uma das sete artes 

Uma das artes que tem crescido muito em Portugal  é a Literatura. O poder da palavra tem-se imposto das mais diversas formas. Seja pelo rigor quase aritmético da escrita de alguns autores; seja pelo enredo tricotado de modo que nos suga; seja pelo experimentalismo atrevido de uns quantos novos autores; seja porque simplesmente alguém se abre ao mundo e se conta numas quantas folhas de papel. A liberdade que não existia em ditadura veio facilitar o aparecimento destes artistas e  não me parece que o digital venha a matar o livro. Ao digital faltará sempre algumas dimensões como o cheiro, o toque, o sublinhado, a cor que o tempo vai tornando sépia. E o companheirismo. Um livro está sempre associado a um tempo e a um espaço que poderemos relembrar ou revisitar. Mesmo que o tempo esteja  muito para aquém de nós e o espaço seja nos antípodas. 

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