segunda-feira, 23 de março de 2015
Lazer
Tentamos
continuar a vida usando o estratagema da disciplina. Horas para as refeições, horas para levantar, cedo – mais porque o
corpo não suporta os axes que se vão apresentando aos ossos do que pela vontade
de madrugar --, tempo para uma caminhada de manhã e tarde a ler, digo, a
dormitar num sofá que não ajuda nada a endireitar a curva da coluna que se vai acentuando. À noite é sentar
para o telejornal do nosso descontentamento e de seguida surfar nos canais a
ver se haverá outra coisa para além das telenovelas imbecis que nos fornecem à
mesma hora todos os canais abertos, os pagos servem-nos discussões espúrias sobre futebol, se foi ou não mão e
penalti, se a expulsão foi merecida, se o árbitro apitou bem e se as claques se
comportaram à altura dos acontecimentos. Estes paliativos levam-me a uma
soneca deliciosa, profunda, que acaba quando pela uma da manhã chegam programas menos maus, escondidos numa esquina das grelhas caóticas, mas que não pode ser acusada de
não ter a diversidade requerida pelos públicos. A espertina ajuda à curiosidade
e a curiosidade à atenção. Aí temos os ingredientes da insónia. Já que Morfeu
nada quer comigo, leio. A leitura no silêncio da noite aguça o entendimento e a
coisa rende, percebe-se o texto, o enredo puxa e por vezes leva-me até ao raiar da
manhã. Ah! A disciplina das refeições, pequeno almoço, marcha matinal, almoço,
leitura a cabecear no sofá, jantar, telejornal, futebol com soneca deliciosa, …
Tentamos
continuar a vida usando o estratagema da ditadura do relógio quase sempre
vencido pela a democracia do lazer que não é o mesmo de nada fazer. Sinal de quê, isto assim?
De Amadeu até eu
Da leitura de Mário Cláudio chego a Amadeu de Sousa Cardoso, pintor modernista do fim do século XIX princípio do século XX. Viveu apenas 30 anos vitima de pneumónica, a mesma epidemia que varreu da vida os meus avós maternos e que por esse motivo me viria a afectar. Os meus avós deixam quatro filhos crianças que criados por uns padrinhos ficam com uma existência pobre e condicionada, numa terra da Beira profunda. É assim que venho a nascer naquela terra só chegando a Lisboa, de onde a minha mãe tinha saído com cinco ou seis anos, exactamente com esta idade, cinco anos. Mário Cláudio, Amadeu, avós, mãe ligam-se-me pela pneumónica. A literatura é uma bússola que nos tira o desnorte.
quarta-feira, 4 de março de 2015
Bravo!
Os primeiros espargos bravos deste ano. Vai seca a época e a safra será menos produtiva do que se esperava quando no pico do inverno a chuva foi copiosa. Os campos estão, por agora, menos verdes, mas fruto da humidade retardada aí estão os espargos. Bravos!