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terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Leituras 

 
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Dec 29, 15

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O Retorno não é uma inutilidade. Mostra que a vida, mesmo nos momentos mais trágicos, pode agarrar-nos e dar-nos alguns graus de liberdade. A história de uma família em Angola e depois cá, nos anos de 1974 e 75, contada em linguagem quase popular, usando a cabeça e os olhos de um adolescente que percebia o que se estava a passar pela espuma dos acontecimentos, é muito convincente

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Boas acções de Natal 

Não aprecio o efémero, o que não tem consistência, o que não é expontâneo. Nas notícias de hoje a tv mostrava como coisa boa uns abraços de passantes nuns fulanos em cadeira de rodas que se prestaram a ir para a rua para serem abraçados. Desconsiderando que algum dos das cadeiras tenha gostado de sentir junto ao queixo um bom par de mamas sem cheiro a bedum, o que resta deste episódio é pouco, é mau, é deprimente. Os cartazes bem impressos, letras de imprensa, de modo a serem visíveis  no écran, diz sobre a espontaneidade. As cadeiras formavam uma barreira na rua da cena impedindo que se passasse sem dar de caras com um dos a abraçar. E depois o pobre do repórter fazia ao abraçado e ao abraçador aquelas perguntas de encher pneus. Gostou, o que sentiu, o que acha da iniciativa, é de repetir. Deprimente. A falta de imaginação e a necessidade de preencher uma hora de jornal da noite levam a que as televisões sirvam ao povo coisas para que fique mais bronco. Mas é ele quem mais ordena, grândola vila morena, ...

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Prandial e Natal 

Há duas alturas do ano em que ocorrem os grandes almoços. Grandes em número de pessoas. Mais de cinquenta pessoas já considero que seja um daqueles almoços em que o restaurante mete o urso e ganha dinheiro. Nos extras, claro. Sim, que quando se marcou  o evento ficou combinado que tinha entradas, dois pratos ou sopa e prato, sobremesa e vinhos branco e tinto; mas houve uns senhores que quiseram martinis no inicio e outros uísque no fim. E também quem quisesse fumar uns charutitos. As cervejas e as coca-colas também não estavam previstas. E some lá mais dois vegetarianos que nos deram mais trabalho que todos os outros. Os homens têm razão, diz a maioria já bem bebida e que começa a sair aí pelas quatro da tarde. Vermelhuscos, a trocar os passos e a despedirem-se com o braço direito a meia haste e o cabeça e evitar a quina da porta.
A comida é, em regra fraca. O eterno bacalhau assado com uma batata e uns bróculos amarelecidos. E quando o branco já deu duas voltas, chega a sempre presente carne assada. Os restos dão para as sandes de amanhã, na outro balcão  do negócio. O tinto é de má qualidade e, claro vai baralhar a noite com a inevitável azia que se segue por uns dias. Onde é que terei arranjado este mal estar que sobe do estômago e queima até à garganta, é a pergunta ingénua que se faz à cara metade nos intervalos dos chás recuperadores.
Há as duas alturas do ano, é verdade. Maio, os almoços da tropa e das escolas por onde passámos. Lembras-te do Algés que levou dois tiros e ficou lá? E do capitão Carvalho que se pôs a desmanchar uma mina no meio da picada com a malta toda a gritar não faça isso meu capitão e de repente um jacto de metralha a sair-lhe de entre as mãos e a levar-lhe metade da cara; ninguém dá troco a este gajo que lembra coisas tristes. E no Instituto Comercial, falemos das escolas, o menos dois, que tinha a mania de começar a correcção dos pontos em 20 e ía descontando os erros, e houve um gajo que por causa disso teve menos dois e o professor ficou o resto da vida conhecido pelo menos dois. E na universidade aquele tipo de finanças que não olhava os alunos de frente, evitava os olhos nos olhos, e chegou a primeiro não digo mais. Dezembro, os almoços dos sítios onde trabalhámos. Os que marcam presença são cada vez menos quer porque a malta grisalha vai lerpando; quer porque os então iniciados são hoje os mandantes. Sobre estes, há que dizer que esperavam alguns grisalhos que houvesse mais reverência mais agradecimento porque lhes ensinaram o caminho das pedras. Mas os mandantes de hoje também têm os seus iniciados.



sábado, 5 de dezembro de 2015

Hodierno extrusado 

O Natal é lamechas? O Natal é tempo de recolhermos ao interior de nós próprios  e de olharmos os outros de mais perto? De pararmos e fazer uma revisão ao passado tentando  descortinar no nevoeiro do tempo aqueles que estão no caminho do trenó ou que, mais realista, os que são agora as renas do nosso trenó? O Natal é  lamechas. Circunscrito no tempo, extrusado nos sinais, obeso no consumo. E assim volátil ou, como é hodierno  dizer-se, não sustentável. Gingle Bells. Gingle Bells.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Taberna Tipica Quarta-Feira em Évora 

O restaurante Taberna Tipica Quarta-Feira em Évora é único. Quem não o conhece terá uma surpresa, positiva ou negativa. Para mim positiva porque para além da comida saborosa e do vinho a cumprir, me divertem o serviço e o acolhimento aos clientes que lá vão pela primeira vez. Pedem a carta. Resposta, não temos. Então queremos uma sopa de cação. Não vai querer nada disso, não me levantei às cinco da manhã para servir uma sopa de cação e deitar o resto da panela fora, os tempos não estão para estragações. Então o que é que tem? Vai comer um delicioso assado de cabrito e depois conversamos. Entretanto o Zé Dias vai servindo entradas, frias e quentes, que vão aconchegando o estômago e fazendo esquecer o cação ou as migas que vinham na ideia. O vinho é José Leandro, especial para o restaurante e que afoga a sede mais sofisticada. Quando o palato fica amestrado, chega a dose descomunal de cabrito. Os clientes provam desconfiados mas logo ficam reféns do sabor do prato único, dominador das papilas. Comem e comem. Após o que pedem qualquer coisa, pouca, para sobremesa; qualquer coisa é o sinal de que deitaram a toalha ao chão, de que perderam a autoridade de quando chegaram. O Zé Dias pisca o olho aos frequentadores habituais e faz chegar aos requerentes de qualquer coisa uma profusão de doces e cestinhos de frutos secos. Comem e comem. Com o café, para desenjoar, serve um licor e deixa a garrafa na mesa. Servem-se como em casa. Vamos então conversar, diz o Zé Dias, gostaram? Ainda querem a sopa de cação? O ar enjoado e as faces tingidas de tinto mostram que os comensais estão mais que satisfeitos. Agradecem e juram voltar. O Zé Dias acompanha-os quase até à Praça do Giraldo. O empedrado das ruelas é irregular e os azimutes ficaram alterados pelos vapores do etílico.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Chocalhos e bilas 

Sou candidato a um prémio cultural imaterial da humanidade. Se os chocalhos podem ser, como posso ficar de braços cruzados? Eu que tenho uma caixa com dez berlindes ou "bilas" (ainda tenho de afinar a candidatura), às cores, que incluem duas leiteiras, uma esfera e, pasme-se, um abafador raiado de mais cores que o arco-íris. Tenho um conjunto de aparos de letra francesa, de letra inglesa e de letra gótica. Tenho vários "cromos" de murais da revolução. Tenho uns Lusíadas que ganhei na tropa, edição Imprensa Nacional 1950, na primeira incursão na literatura. Tudo na mesma caixa, onde guardo ainda uns quantos santinhos de primeiras comunhões e crismas e um terço de contas prateadas. Com este património sou impelido a candidatar-me. Um único óbice: património implica IMI. Se fosse aceite teria de pagar mais. O melhor é desistir e cumprimentar os chocalhos pela vitória, apesar se ser ilegítima (comparando, já se vê!).

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