sábado, 24 de setembro de 2016
Interlúdio (23)
Quando Pessoa é a nossa pessoa
Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma
Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.
Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
Heterónimo de Fernando
quinta-feira, 22 de setembro de 2016
Interlúdio (22)
Uber ou construir muros quando sopram os ventos
A mudança chegou também aos transportes e a sectores em que era impensável que viesse a acontecer. Os táxis têm os dias contados. Os dias será exagero, mas estão a prazo. Experimentei o UBER, essa bomba silenciosa que vai alastrando no território dos táxis e de outros meios, como as limousines para turistas , carros de aluguer e toda a sorte de veículos mais utilitários ou mais luxuosos que hoje existem para uso casual. Vão provavelmente deixar de existir.
Da UBER, a minha experiência foi muito positiva. A plataforma apresenta no telemóvel um mapa com o local em que o utilizador se encontra; e num segundo momento apresenta um campo para que se preencha o local de destino, por exemplo, Terminal 2. Faz de imediato uma estimativa da duração da viagem e do custo, sendo que aqui apresenta três opções de viatura: baixa, media e luxo. A pessoa escolhe o que pretende, e no telemóvel surgem os veículos que, de acordo com a escolha, se encontram mais perto bem como o tempo que cada um levará a chegar ao ponto de recolha. Escolha feita são exibidas as características da viatura, a matrícula, o nome do motorista e o ranking atribuído até ao momento pelos clientes, de 1 a 5, sendo 5 a melhor classificação. Chegado rigorosamente no tempo estimado, o motorista arrumou eficazmente as malas no porta bagagem, iniciou a viagem, sempre com o percurso a ser exibido num écran, percurso semelhante ao que se pode conferir no nosso telemóvel. No ponto de chegada repete-se o ritual, retira as malas que arruma ao lado da viatura e diz adeus. Pagamento, gorjetas, extras? nada. O valor da viagem é de imediato facturado, enviado por email e debitado via cartão de crédito.
Uma nota, o carro estava impecavelmente limpo no interior e no exterior, sem cheiro a tabaco e sem música. Ainda iniciei conversa sobre o eterno tema que não aquece nem arrefece, o tempo, mas a resposta foi "pois é!".
Nota dois, no telemóvel surgiu um ou dois minutos depois da viagem terminar um conjunto de 5 estrelas em branco ao lado da fotografia do carro e do condutor, para ser feita a avaliação. 5 estrelas, claro. Contudo alguns clientes terão sido mais exigentes porque a média, que também é exibida, era, naquele caso, de 4,7 estrelas.
Nota final, o cliente também é avaliado, o que acrescenta alguma segurança a todo o sistema, inclusive, aos condutores nestes tempos de alguma violência.
Portanto, compreendendo embora os protestos dos nossos taxistas, sou de opinião que há aqui alguns, bastantes, ajustamentos a empreender no sentido de voltarmos a ter, por algum tempo mais, taxis e taxistas com qualidade, a preços justos e sem darem mais aquela volta quando não conhecemos o percurso.
A talhe de foice sempre vos digo que o meu pai foi taxista. Fazia, no seu tempo, transportes de muitos quilómetros com um carro puxado por dois bois.
quarta-feira, 14 de setembro de 2016
Interlúdio (21)
Suíços
É verdade que o cumprimento rigorosos dos horários é quase uma religião Suíça. Conhecida pelos relógios de elevada precisão, é também no cumprimento ao minuto dos horários dos transportes que o país se distingue. Este é realmente diferente da maioria dos povos, neste particular. Mas nunca me teria passado pela cabeça que o prazo de validade de uma água mineral fosse medido ao minuto. Veja-se o exemplo desta água que estou agora mesmo a beber nesta tarde tórrida em Zurique, numa esplanada pejada de turistas, a rebentar pelas costuras. Será, a dita água, inexoravelmente retirada do mercado às 17 horas e 54 minutos (talvez mais um segundo) do dia 21 de Julho de 2017. Esta não que vou bebê-la. Só mesmo dos suíços.
quinta-feira, 1 de setembro de 2016
Interlúdio (20)
Praia do Amado
Widely known as one of the top surfing spots in Europe, Praia do Amado Algarve region, is a popular hangout for all seasons. Praia do Amado beach is also a regular host to several surfing and body-boarding competitions, including local and international surfers. There is a surf camp offering vacation programs, conducted by the beach’s own surf school, making full use of the natural swell conditions along this west coast of Portugal.
With dark-coloured cliffs overlooking the picturesque Praia do Amado beach, this vast stretch of sandy coast welcomes many people, especially during summer and holiday periods. All necessary amenities including food outlets and shops, selling beach gear, are readily available to serve surfers and nature lovers attracted to the area.
Surfers busy improving their skills on the Atlantic waves, are a common sight at the Praia do Amado beach. Beach enthusiasts who choose to amble a short distance towards north of this broad expanse of soft sand, will be delighted to discover beautiful stones in various hues, ranging from pink, ochre, green and back of different swirls designed by nature.
Despite its remote location from the main towns, Amado’s Algarve region is easily accessible. Its a hassle-free 30 minutes ride southwards, about 20km from Aljezur, one of Algarve’s rustic towns. The nearest village Carrapateira, also has direct scenic route, above the cliffs, to Praia do Amado beach.
Instalação by me
Interlúdio (19)
Ao Sul
Desde há muito que me afeiçoei a esta bebida entre o amargo e o doce, entre o gelado e o quente torpor. Gin. Era nos fins de tarde em Abrantes que os naïves aspirantes a oficial se reuniam para a celebração diária daquela liturgia inefável (vão ao dicionário, se houver aqui alguma palavra menos acessível) de degustar lentamente o sabor a lima, limão ou laranja da bebida eleita, o Gin. Depois, já na guerra, na ração mensal de bebidas para esquecer, a logística fazia chegar aos oficiais entre outras iguarias como drambuie, vodka Moskovskaya , whiskey velho e novo, o tanqueray, esse Gin - que merece a letra grande que o teclado insiste em não me deixar corrigir -, por me deixar feliz e atordoado bebido em maior quantidade devido à falta de gêlo, da água tónica e dos botânicos, esses comparsas do embelezamento. A guerra tinha aspectos positivos.
Hoje o Gin está na moda. Muitas marcas, bons sabores, preparação mais ou menos complexa. O último que saboreei é meio portugues meio alemão. As plantas a destilar são colhidas no sudoeste Alentejano, vão a Hamburgo sofrer a destilação e voltam neste néctar de sabor divinal. É este o tal,
Numa tarde de um dia de Agosto, de muito calor, frente ao mais belo pôr do sol do mundo, na costa alentejana que lhe emprestou as matérias primas, o Gin Sul devolve-nos o bem estar que um mortal merece. Momento zen.
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