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domingo, 28 de novembro de 2004


Com 104 anos morreu o meu ''quase''-conterrâneo Fernando Valle. Umas dezenas, poucas, de quilómetros em linha recta separam as casas em que nascemos. Guardo dele uma recordação de homem sereno que era capaz de dar uma consulta entre as ovelhas na sua quinta de Coja, os honorários eram baixos e bastas vezes nada. Na sua casa deu guarida a perseguidos pela PIDE, no tempo da outra senhora. Uma certa solidariedade em vias de extinção.
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Pobre Paris
Um azar nunca vem só. No mesmo dia do infausto evento acima registado, de um outro tive conhecimento. O Restaurante Paris, o da Rua dos Sapateiros, esse, em que o creme de lagosta vinha na casca da dita e a salada de peixe com vinagrete nos fazia pecar por tanta gula, mudou de donos. Os profissionais galegos de casaco azul – o chefe de mesa não se confundia, usava um verde garrafa – cederam o lugar a uns amadores de avental arroxeado. O que seria o menos se a ementa, diariamente refeita em máquina de escrever, que ostentava opíparos manjares não tivesse sido substituída por uma trivial folha, impressa em computador, cheia de omeletas e bifes. O coração de Lisboa a desertificar-se e o estômago a contribuir para eu engrossar número dos desertores. Eu e muitos outros.

sexta-feira, 26 de novembro de 2004

Reencontros
Não gosto de jantares de celebração. Talvez seja uma reminiscência que me ficou da leitura de Angústia para o Jantar de Sttau Monteiro, nos tempos idos de 60. Não gosto sobretudo de jantares de Natal. Por dever de ofício estive em muitos. Um dia, naquele dia em que mudei de oficio, disse: acabou-se. Mas como não há decisões definitivas, sobretudo quando envolve afectos, lá estarei no dia combinado, com gosto e com vontade. Curioso por rever uns tantos amigos com quem o trabalho nunca foi árduo, chato e competitivo mas antes lúdico, desafiante e solidário. O refeiçoar é o pretexto.

quarta-feira, 24 de novembro de 2004

Uma carta de despedida...
"23 de Novembro de 2004
Caros Colegas:
No dia 2 de Dezembro próximo cessarei as minhas funções no ISEG, onde fui docente desde Abril de 1977. Tal deve-se ao facto de o ConselhoCientífico não ter renovado o meu contrato como Professor Auxiliar Convidado, contrato que vigorava desde 2 de Dezembro de 2003. Na origem deste último contrato esteve a decisão, tomada em Setembro de 2003, de não me ser concedida a nomeação definitiva como Professor Auxiliar no Departamento de Matemática. Esta recusa ocorreu no fim do primeiro quinquénio que se seguiu à minha obtenção do grau de Doutor pela Universidade de Sussex, em Janeiro de 1998. A não concessão da nomeação definitiva não foi por mim contestada. Apesar de poder alegar a meu crédito um quarto de século de dedicação ao ensino, a investigação é primacial na vida universitária e o código depublish or perish dificilmente poderá ser repudiado. Em boa verdade, estoude acordo com os termos da declaração de voto feita na ocasião pelo Presidente do Conselho Científico (Anexo B à Acta nº 312).
(...)
A investigação não serve unicamente para apresentar currículo ou para validar aquilo que se suspeita ser verdadeiro. Pelo contrário, o debate dassurpresas científicas é o timbre de uma vida intelectual verdadeiramente livre. Tentar ignorar tais surpresas leva ao conformismo e ao fenecer dequalquer curiosidade intelectual.
Saudações académicas
Jorge Filipe de Albuquerque Matos de Almeida"
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... E o que diz o Zé
"Talvez tentem que eu perceba o que fizeram ao GALILEU.
Quando se atinge o grau de Catedrático com um DEA (vulgo Mestrado), não se tendo acesso ao presumível documento na Biblioteca do ISEG (está indicado no índice dos livros da Biblioteca do ISEG, mas não esta disponível para consulta, porque talvez seja o descredito ou o plagio, para o fulano) e ainda se é responsável pelo Conselho Cientifico em data passada, por, talvez, show off, imposição do medo ou mera pseudo-cagança, algo esta errado.
Dei aulas nesta Escola durante 11 anos, sei que para mim só representa duas diuturnidades da Função Publica, que para a Reforma é muito importante, mas sei também o que representa o esforço,empenho e dedicação a causa da Vida Intelectual para alguns muito poucos.
É preciso gostar, saber gostar.
Sei também que para muitos o rasto do cheiro pérfido da "ciência" e o mais importante.
Não será para isso que as raízes quadradas ao cubo, que aprendemos nas Escolas só servem para complicar o bom senso e a forma de estarmos na Vida.
Não será por isto que as Escolas continuam de costas para a realidade.
Quando se é pequeno, não é subindo ao púlpito ou a uma cadeira que se iguala os GRANDES.
Em consciência não podia deixar de escrever isto, depois de ler aquilo.
Viva a VIDA."

sábado, 20 de novembro de 2004


Bailarico no bairro-Eloy, Mário (Lisboa, 1900 - idem, 1951)

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terça-feira, 16 de novembro de 2004

Viagens
Quebraste o silêncio correndo pelos campos com um papagaio atado na ponta de um cordel desafiando o vento e o azul bem definido do céu cera derretida num ápice ora escorrendo como a lava de um vulcão do lado de cá do risco imaginário traçado entre duas montanhas fazendo-se vale profundo. O silvar do comboio ascendente é o grito que marca a compostura da paisagem num desafio rumo a norte. Azul fogo e o traço a deslocar-se num movimento de lápis numa folha branca com um lago por perto.

domingo, 7 de novembro de 2004

Improve your skills
A razão porque os consultores têm sucesso tem muito a ver com a forma como gerem as expectativas dos seus clientes. A culinária tem algumas semelhanças com a consultoria. Ambas prosseguem um objectivo final, às vezes não muito bem definido. Deixo aqui uma sugestão ao consultores para ajustarem as expectativas ao resultado, usando o exemplo de uma receita em que o prometido é um doce. Nunca prometa coisa muito definida.
Pegue numa tigela não muito grande, deite-lhe dentro 6 ovos, 2 colheres de água e 2 chávena de farinha e muito açúcar. Junte-lhe uma raspa de limão e um pau de canela. Bata durante uns minutos até que os elementos se misturem bem. Polvilhe tudo com chocolate em pó. Leve ao forno. Espere 15 minuto. Espete um palito. Retire quando o palito sair seco.
Seja o primeiro a conferir o resultado. Anuncie-o com convicção. Se estiver duro, diga, é bolo; se estiver mole, diga, é pudim.
É sucesso garantido.


quinta-feira, 4 de novembro de 2004

Quebrar o silêncio
Será então que com a razão te vejo e o que não consegui roubar. Caçador de cabeças, lápis de cera, papel de lustro, gaivota. Então?. Cá está o não prometido exercício de letras, pontos e vírgulas. Bem sei que não pensadas. E outros dirão: o quer este com isto? Tal e qual o queria antes e quero agora: nada. Só o gosto de preencher o branco da pantalha com este verdana dez num desafio que nada desafia a não ser o tempo mas que vai ter vida e andar por aí a partir de agora. Voa gaivota, açor, rapina do tempo. Aproveita os céus com movimentos largos nesta banda em cada dia mais larga.

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