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quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

Interlúdio (67) 

 






sábado, 3 de julho de 2021

Interlúdio (66) 

Os dinossauros também se foram

Estava na minha lista de tarefas a realizar, esta a de reavivar o blog. Não é pelo número de leitores, que deverá andar pelo zero, mas por mim. Foi coisa que nasceu há alguns anos, quando havia assuntos que,  eram motivos em si,  presumivelmente importantes. Não eram, não tiveram detratores nem concordantes, ficaram sim a poluir a blogoesfera, essa nuvem ainda nascitura que não transporta água mas gera tempestades. Por isso e para que não acabe esta minha ligação, por mim, dizia, aqui estou. Nem a pandemia foi suficiente para me acordar do letárgico estado  em que, em termos de escrita, tenho vivido. A pandemia vai ceifar ainda muitas mais vidas, porque as várias mutações são a resposta do bicho para não se deixar domar. Se eu fôr um dos que vai ser apanhado, o que é mais que provável, gostaria de deixar o testemunho dos meus setenta anos de vida. Os anos 60 foram memoráveis. Havia razões e causas que nos tocavam. Havia um esbracejar político, social, de relações. Havia a clandestinidade dos pensamentos, dos actos, das vidas e até das mortes. Os anos 70 foram de um viver frenético na Europa, havia novidades todos os dias, a inovação espreitava por todas a frinchas. Nos anos 80 e 90 havia um viver sobre o conseguido.  Havia, hoje não há. Abateu-se sobre o mundo, sobre toda a ecúmena, esta ameaça que pode acabar com a humanidade, tal e qual como acabaram os dinossauros.   


sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Interlúdio (65)

Um primeiro dia de um ano

Acaba um ano em que todos chumbámos. O grande mestre ou o Mestre quis refrear a loucura dos homens e veio mostrar que o céu não é o limite. Os recursos da Terra teriam de ser ajustados às necessidades necessárias (parece um pleonasmo, mas é uma clarificação). O esbanjamento e a destruição que era a regra por todo o lado teve uma resposta da natureza, também em todo lado e em todas as pessoas. Vamos aguardar pela resposta dos homens e que a cura anunciada desta má coisa pandémica possas vir depressa para nosso bem e nossa salvação.   



segunda-feira, 27 de julho de 2020

Interlúdio (64) 

Estes tempos
Estamos longe de quando se vivia. Uns meses antes do Verão começavam os trabalhos de preparação da casa, da horta, do pomar, da piscina. Faziam-se os menus para evitar que algum dos netos tivesse de ser confrontado com alguma coisa de que não gostasse ou fosse alérgico. Os quartos eram completados com camas extra. As mesas recuperadas com os óleos de teca para ficarem mais lustrosas.
Depois vinham os dias da chegada. No aeroporto cinco minutos de espera pareciam séculos. Até que de entre a multidão lá apareciam os adultos, as crianças e as bagagens. Os beijos, os abraços e as palavras. Algumas das palavras sem sentido, tal a excitação do momento. Tanto para dizer e ali nada saía com tino. O andar para o carro, com as crianças a contarem os detalhes da viagem às voltas das pessoas e das bagagens. Os adultos com sinais de cansaço, a precisarem de um banho e de uma refeição recuperadora.
Era assim, antes deste virus que veio parar o mundo. Veio paralisar as pessoas. Veio afastar as famílias. 

terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Interlúdio (63) 

Com o tempo o conhecimento que se vai armazenado é mais e mais, mas não é re-utilizável. A velha ideia de que com a idade a experiência acumulada vale por si só, deixou de fazer sentido em muitas profissões, em particular as ligadas à tecnologia. A curva da tecnologia que costuma ser  representada por S sucessivos e ascendentes, em que cada S se liga ao seguinte como se fosse uma onda, fazendo crer que cada fase, S, assenta na anterior, deixou de fazer sentido, ou quase deixou. Os actores no mundo das tecnologia procuram lançar soluções e produtos disruptivos. Quando o conseguem deitam borda fora empresas que eram lideres, produtos velhos e recentes, mercados inteiros. A grande questão é se do ponto de vista social a tecnologia está a gerar mais emprego do que o desemprego que provoca. É muito cedo para se saber.

domingo, 21 de julho de 2019

Interlúdio (62) 

Cores e sombras

O Verão não é já  previsível. O país já não tem o tal clima temperado que fazia as delícias dos actores do Abril em Portugal que, não obstante, como slogan turístico nunca teve grande sucesso. A temperatura do ar tanto pode ser de 50 graus como ser abaixo de 20, num intervalo de tempo de dias e em qualquer estação do ano. Nada fazemos para contrariar o rumo do clima. Nada fazemos porque o mar que navegamos não será alterável nos anos próximos. Estratégias a nível global não são possíveis por ignorância ou ganância dos poderes com dominantes. Nunca a imagem da Torre de Babel do antigo testamento da Bíblia teve tanta aderência à realidade como agora. Em vez de pôr os homens a falar línguas diferentes para que a construção da torre não fosse possível e assim não conseguindo chegar ao céu, Deus deu aos homens o tal livre arbitrio que, nestes tempos tem conduzido à globalização que só aproveita a alguns. 


domingo, 31 de março de 2019

Interlúdio (61) 

A tradição ainda é o que era.

Moscavide é como uma aldeia às portas de Lisboa. As lojas vendem os artigos de há 50 anos como o Lifebuoy, um sabonete nada simpático no cheiro mas que se dizia e diz altamente desinfectante. Os cafés de "passar tempo" são muitos e funcionam como centros de dia; a vizinhança chega e cumprimenta-se, pedem o Correio da Manhã e uma bica. A geração grisalha, que se aguenta estoicamente graças ao Centro de Saúde, discute a novela, elas e o futebol, eles.
Os restaurantes ganharam uma nova vida com o aparecimento do Parque das Nações que se instalou no outro lado do caminho de ferro; são baratos e continuam com um menu de cozinha tradicional. Os muitos escritórios da Expo debitam os comensais engravatados que comem rápido e deixam as mesas livres para o segundo turno que é o dos reformados. As ruas apertadas e os prédios acinzentados dos anos 50 do século passado acomodam uma misto de gente muito idosa e de alguns jovens que chegam porque os preços das habitações ainda não sairam de controlo, como acontece nos bairros vizinhos.











sábado, 2 de fevereiro de 2019

Interlúdio (60) 

Tempos

Esta quietude inquietante 
Da charneca alentejana
Lembra a África 
Do silêncio 
E a mina que de rompante 
Surpreendia o respirar
Um som seco clique pum!
E os soldados suspensos
Alguém apanhado pelo aço?
Há um ferido num braço 
Há outro esticado na berma
Parece que ficou sem perna
O silêncio na charneca 
Sem jornais sem televisão 
Trazem-me à memória a mina
E o soldado refilão
Que com o braço desfeito
Num choro manso ciciava
Não fico assim pois não?

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Interlúdio (59) 

A viagem


Há dias tive um sonho estranho e perturbador. Perturbador porque quando me acordou, a meio da noite, custou-me tempo demais a voltar a adormecer. Era assim o sonho: Ia eu embarcado num barco enorme, talvez um barco de cruzeiro, que aliás é coisa de que não gosto, cruzeiros. E o barco, ia-se afastando da costa, num estuário, que deveria ser o do Tejo, a julgar pela linha que se desenhava no horizonte. O casario ia ficando cada vez mais longe e os montes  sumindo-se arredondados e esbatidos. A sensação que sentia era de perda, deprimente mas, ao mesmo tempo, muito semelhante a uma situação doce e evanescente. Do barco deixava de se ver terra quando acordei.
Um explicador do onírico interpretaria, porventura, o significado deste meu sonho e a razão porque o sono me deixou no mar alto, só eu. Outro pormenor que me perturbou:  este, de no barco enorme não haver outros passageiros.
Talvez a explicação mais comezinha para este estranho sonho - é raro sonhar -, seja, afinal, a que logo logo me ocorreu: isto é a vida. 



segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Interlúdio (58) 


Há tempos que

não venho ao blog. Não haverá falta de temas, há falta de pachorra. Mais uma vez refiro que tenho um respeito enorme pelos escribas que diariamente têm de alimentar os jornais com opiniões e  ensaios e outros escritos. Nem sempre terão vontade ou inspiração para o fazer. Um drama para eles.
Mas vamos ao tema de hoje. Em Montemor-o-Novo há um restaurante em que  ementa é apresentada em RAP. Vale pela comida mas também pelo espectáculo.

https://photos.app.goo.gl/jRSktWGqZfckS7Xr5



sábado, 4 de agosto de 2018

Interlúdio (57) 

Ó ANA!

(Quase) um dia no aeroporto de Lisboa.

Pode dizer-se que está a funcionar pior o aeroporto de Lisboa. Multidões. Serviços. Organização. Negócio.

Multidões que a chegar e a partir, tornam mais difícil e ineficiente o desempenho dos multiplos operadores. As filas para tudo e nada são de muitos metros, disfarçadas pelos separadores em sucessivos zês. O ar não é de felicidade nos clientes. As informações de como fazer um check-in fora do standard variam em cada esquina onde se encontre e se pergunte a um "quinhentos". Para chegar ao balcão certo recebem-se informações diferentes e erradas.

Serviços. Caros, lentos e de qualidade abaixo do razoável. Num restaurante paguei adiantado um amburguer que não chegava, depois de uma espera de quarenta minutos lá apareceu uma coisas redonda, castanha escura, seca, execrável. Explicadas a razão do atraso, ficou a dever-se "a uma avaria na impressão dos tickets"!!.

Noutro balcão de cafés e águas ao troco do pagamento faltavam 10 cêntimos. Grão a grão...

A organização dos espaços resulta confusa, bem ao jeito da terra dos 275 queijos. Há que contar com este facto e juntar mais meia hora ao tempo usual de uma partida.

Negócio. Vai porventura de vento em popa. Todo o espaço rende. Os parques de estacionamento estão a preços de morte. E do exíguo terreiro das partidas foi feito um parque confuso, perigoso para a chapa dos carros. 

Conclusão: piorou o serviço, aumentaram os preços, a recuperação do investimento é o objectivo a prosseguir a todo o vapor pela Vinci, SA.


sexta-feira, 4 de maio de 2018

Interlúdio (56) 

Tenho andado arredado daqui e mais activo - pouco - nas redes sociais, aquelas que estão na ordem do dia. A saber, Facebook, Instagram, LinkedIn e outras. A possibilidade de dizer banalidades e receber resposta inócuas são as grandes vantagens das redes sociais. Diz-se também que são perigosas porque nelas a pessoas escancaram a vida, o que é verdade, sabendo-se que só o faz quem quer. Tenho encontrada várias tonalidades de intervenção no FB. Desde autores que dizem pequenas coisas que evitam dizer nos seus escritos até aquelas afirmações de outros que, com as tais ou sem as quais as coisas ficam tal e quais, como por exemplo os que dizem “estou na praia”, “estou a comer um gelado” e outras insanidades que rastejam na mediocridade dos dias.

Mas o principal motivo porque não tenho dito mais no bloque tem que ver com o facto do Blogspot ter sido descontinuado pelo pelo editor. Para aqui inserir um texto é preciso dar voltas e voltas que fazem perder a paciência e assim se vão as ideias. O meu vínculo a alguns amigos tem-se diluído. A tecnologia mo deu a tecnologia mo está a tirar, digo fazendo agora uso, aliás abuso, de uns versos do Zé Afonso “... aí Deus mo deu ao Deus mo levou...”, nas Cantigas do Maio.


segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Interlúdio (55) 

Das velas

Sete
Fúlgido olhar
Que transborda para dentro
O que parece nada
Toque de Midas
Que tudo torna em felicidade

Setenta
Degraus que se descem
E apagam-se as ideias
E transformam-se em certezas
O que já foi a vida
Crescem saudades das dúvidas.


sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Interlúdio (54) 


Ler e outras confissões 

Na juventude passei por cima da etapa da leitura. Fui forçado a ir pelo cinema e pelo teatro; ver, claro. Por uma razão trivial, não tinha nem dinheiro para livros nem acesso a bibliotecas. Claro que também não tinha dinheiro para o cinema ou para o teatro. Acontecia afortunadamente que à época havia em Lisboa grandes salas de espectáculos que, aos sábados à tarde, franqueavam a entrada, em número limitado, a alunos da minha escola, desde que fardados. Mais tarde, depois de concluído o curso comercial, que tinha por objectivo preparar merceeiros de nível razoável, surgiu-me no percurso escolar a obrigatoriedade de conhecer obras, escritores e épocas da literatura. Nessa altura ainda que o dia ultrapassasse as vinte e quatro horas, eu não conseguiria abraçar num ano lectivo o que o programa exigia. O resultado final foi humilhante num exame que ainda hoje recordo e me acorda. Fiasco deprimente que resolvi in extremis, com conversa lateral que preencheu os 20 minutos da oral. Eça de Queirós li já em adulto. Camões li na tropa. E Mário Vargas Llosa, li à sucapa, em castelhano quando um amigo mo fez chegar numas férias da guerra. Falo de literatura e não do jornal A Bola que esse lia porque os jornalistas eram de boa pena; dos clubes nada recordo. Quando tardiamente tive acesso aos livros, os clássicos não foram a minha prioridade. À uma porque não tinha bagagem para os ler e depois porque as edições eram numa encadernação rígida, incompatível com o bolso ou com o resto da papelada que me perseguia. Claro que li Camões e Eça e Gil Vicente e Bernardim Ribeiro e Júlio Dinis - um chato -, li Balzac todo. Coisa estranha mas Balzac era o que tinha à mão por um familiar ser colecionador da obra.

Não sou um leitor compulsivo. Sou caótico nas escolhas. Não sigo tendências. Confesso que alguns dos novos me causam embaraço por não conseguir entender se escrevem ou se desenham. 




quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Interlúdio (53) 

Viver

Um livrito de aeroporto, One Minute Manager, fino de 30 páginas, que se lê numa viagem curta da Europa, teve uma enorme influência na minha maneira de entender as pessoas. A cada um segundo a sua maneira de estar; a vida pode ser vivida com felicidade de formas distintas. Corolário: ser feliz é estar de bem com a vida. Pois, é asim:


E assim


Com votos de Feliz Natal 


sábado, 2 de dezembro de 2017

Interlúdio (52) 

A degradação 
Estou à frente de um ecrã de televisão, numa tarde de sábado que vai avançada. O sol já se foi e os 12 graus de máxima estão rapidamente a decair. Daqui a pouco estarão uns 5 ou 6. Frio sem chuva. Como eu, alguns milhares de portugueses estarão a ver um programa transmitido directamente de Portel, aqui já ao lado. A qualidade do programa, que ocupa toda a tarde, é tão deprimente que quase choro (penso que chorar assim é um dos sintomas de depressão). Uns artistas que, coitados, têm de ser grandes artistas para fazerem estas figuras. Atrás da cantadeira está uma e um a fazerem macacadas com os braços que balançam entre as dez para as duas e as duas e dez. Também dão uns saltos para a esquerda e para a direita. Sorriem todos, com uma expressão forçada. Uns calções justos não chegam para salvar a pobreza da prestação. No final uma apresentadora pede aplausos e pede telefonemas para um número que custa cêntimos e dá um automóvel. O programa segue depois com o presidente da câmara a recomendar o azeite, o mel, o vinho e a simpatia do nosso povo. Esta sequência de cantadeira, telefonema para sacar dinheiro e conversa sobre o mel e etc. repete-se por tempo monotonamente interminável. Que coisa degradada e degradante. Talvez amanhã seja diferente, com um longuíssimo filme de Bollywood, ela de casta superior e ele coitado não pertencendo à casta é formado por uma universidade inglesa, conheceram-se em Londres, e quando menos se espera vem música e dança a sublinharem o dramatismo das traições e tudo a acaba numa cabana da montanha. E eu aqui. Preguiçoso sem ser capaz de desligar a caixa que mudou o mundo. Lá fora faz frio. Faz mesmo, não se trata da música dos Xutos do malogrado Zé Pedro, que ainda vai parar ao Panteão, por este andar. E eu aqui sem desculpa, nem do frio.

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Interlúdio (51) 

Vamos pagar caro 

A praia do Amado na Costa Vicentina com mais de 20• Centígrados quase em Dezembro é motivo de preocupação. E a chuva continua a brincar ao gato e ao rato. Vamos esperar, não há outro remédio.



quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Interlúdio (49) 


Do corpo

Num livro de José Tolentino Mendonça, com o título de Teoria da Fronteira encontram-se coisas que dão que pensar. É reconfortante ler pedaços como este. Sem nunca entrar a matar o escritor separa claramente o corpo do resto, chama-lhe ideia, como poderia chamar-lhe espírito ou alma. Mas quis ser ainda mais abrangente e cósmico. Anota como o corpo é frágil e um meio que falha em circunstâncias as mais inesperadas. Fica a ideia, enorme e transcendente. A não matéria.






quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Interlúdio (48) 

Querido Agosto 


Agosto está-se a finar. Com ele o grande verão também se despede paulatinamente dando um dia destes a vez à estação mais incaracterística, na minha minha opinião, que não considero modesta para não entrar em conflito estéril com o meu ego. O nosso querido Agosto das visitas e das festas. Da praia e do rio. Este ano, contudo, mês também de grande preocupação causada seca, pelos fogos, pelas sequelas que ficarão por muito tempo a mostrar-se. As vilas do interior voltarão à modorra dos dias sem vivalma. E a segunda e terceira gerações que este ano ainda vieram  - a falar melhor francês, mas também inglês e holandês - para o ano talvez não venham . E assim se (es)vai o país. Restam os pássaros.



domingo, 13 de agosto de 2017

Interlúdio (47) 

Annus horribilis 


O horizonte que se abarca desta casa é sempre nítido, bem desenhado e uma espécie de avisador da meteorologia dos dias seguintes. Hoje uma densa nuvem de fumo encobre a bela skyline habitual.

Mais perto, aqui, as árvores, que definham com a seca, estão cobertas de micro partículas de cinza dos fogos trazidas pelos ventos que, a espaços, sopram forte. As árvores são a parte visível, mas telhados, caminhos e terras estarão também assim. A memória é curta no que toca aos fenómenos atmosféricos, mas do  que me lembro, e já tenho consciência destes fenómenos há mais de meio século, este ano é  o annus horribilis, o mais tramado que nos calhou em sorte.

Nota: o lugar do Alentejo Interior onde estou ficará a significativos quilómetros do fogo mais próximo.


sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Interlúdio (46) 


Lisboa em Agosto


Lisboa em Agosto é um gosto. É dos melhores lugares do mundo para estar. Comecemos pelo tempo. Amenizado pelo Tejo, com humidade relativa muito conveniente. Depois as pessoas, descontando os turistas que me parece estarem a cair ao Tejo, tal a quantidade que os há em terra, as pessoas emigraram daqui para imigrarem para ali, a maioria por cá. Os espaços ficam por um tempo mais habitáveis. Por último os restaurantes, os que resistem à tentação de fechar (Lisboa já não é uma cidade de negócios, é  de Turismo) tratam melhor os clientes, com bom ar condicionado e propostas prandiais de qualidade. 


quarta-feira, 19 de julho de 2017

Interlúdio (45) 

Costa Vicentina 

Um areal a perder de vista, umas rochas a formar piscinas com a água renovada na maré alta. O céu com um véu a filtrar o sol. Muitos surfistas, desde a pré primária à universidade (em domínio da prancha). E as esplanadas, algumas, muitas são de estrangeiros que servem como se estivessem na ópera de Paris. É  a costa vicentina. Ainda.

segunda-feira, 19 de junho de 2017

Interlúdio (44) 

Ora a hora


Sim, sei que às vezes

O tempo pára 

E nós continuamos 

Sem dar por isso

Alguém me disse 

Que é isso a velhice.


terça-feira, 6 de junho de 2017

Interlúdio (43) 

Há dias em que acordar é um apelo aos sentidos. Antes do sol cair com toda a inclemência sobre a charneca indefesa.

quinta-feira, 1 de junho de 2017

Interlúdio (42) 

A cor conta 
Durante um par de meses o Alentejo, deixa-se subjugar pela beleza. É na passagem do inverno para o verão; sim, porque a Primavera não se queda como estação duradoura neste quase sempre agreste Alentejo interior.
E então as cores mostram a sua exuberância com as tonalidades todas com que a natureza se apresenta por enquanto, num mundo que herdámos repleto de coisas boas (como dizia o Artur Jorge) e que definitivamente não vamos deixar aos vindouros (Trump dixit).




quarta-feira, 3 de maio de 2017

Interlúdio (41) 

Viagens low low cost 

Não tenho tido assuntos para aqui vir. Falar de doenças não é  tema de interesse. De viagens à família é coisa íntima de que também não vejo vantagem em falar, só interessa aos envolvidos: visitantes e visitados. Falar do Alentejo e dos silêncios que se entendem preguiçosos nas tardes tórridas de sol a pique, é como falar de gin, é só para apreciadores. Recomendo então que vão dando uma vista de olhos ao blogue   http://Placesworthgoing.net 

O autor anda há um ano pela Austrália e Indonésia e embora pouco assíduo na escrita tem alguns posts muito curiosos.

Com o mesmo título pode ver-se mais no Facebook e no Instagram. Vão gostar de saber como se viaja com uma mochila e 500€.

http://placesworthgoing.net/



sexta-feira, 7 de abril de 2017

Interlúdio (40) 

Calculem lá !?

Antes das calculadoras, muito antes dos computadores e muito muito antes dos smartphones, usou se a régua de cálculo da ARISTO. Descobri a minha, espartana, briosa e ainda pronta a dar resultados agora aproximados dado que já não tenho a mesma capacidade de cálculo mental, que complementava o raciocínio para chegar ao resultado final.


terça-feira, 21 de março de 2017

Interlúdio (39) 

Radiografia 


Da próxima vez que me vires

Há coisas para te rires 

A L4 e a L5 são património  precário 

O osso do calcanhar também está a claudicar 

Talvez reste o respirar, anima-me o boticário.

....

Assim se perde a postura

E a compostura a zarpar.


quinta-feira, 16 de março de 2017

Interludio (38) 


Notícias




quarta-feira, 1 de março de 2017

Interlúdio (37) 

Viajar na TAP hoje


As boas notícias primeiro. A TAP conseguiu (ou está a conseguir) substituir as cadeiras tipo sofá que equipavam os seus aviões por umas outras com um terço do volume e com as mesmas funcionalidades. Pelo menos em viagens de médio curso a comodidade não me parece ter sofrido. A TAP talvez tenha ganho em número de lugares por avião; ganhou de certeza em aumento notório de espaço entre filas. 

As más notícias. Deixou de haver vendas a bordo, as refeições constam de uma sandes de atum e um micro sumo, a tripulação de cabine parece recrutada na casa do conto com um savoir faire semelhante ao de um tasqueiro dos subúrbios. Até já nem explicam aquela das três saídas de emergência: uma à frente, outra sobre as asas e outra na retaguarda, com aqueles gestos amplos como se estivessem a nadar de bruços.

A última das más notícias: quem pretenda escolher lugar na mesma classe, ignoro se em todas as filas, tem de desembolsar mais 15 euros, pois então. 



terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Interlúdio (36) 

Ray C. Vogensen
Ray C. Vogensen, studied at Sonoma State University
I am not Brazilian, as you can see by my name, but am American born and Portuguese naturalized.  Having lived in both countries for a total of forty years (twenty and twenty), and being married to a Brazilian, this is a question that often goes through my mind.  When we lived in Brasilia, in the seventies and eighties, there was almost zero contact with Portugal.  In a city of one million there was one Portuguese restaurant (looking now I found at least seven).  I personally never heard Portuguese as spoken in Portugal, never saw a Portuguese movie, watched a Portuguese TV show, or heard a Portuguese musical group.  Today I am sure it has changed a little although I think the average Brazilian has no concept of life in Portugal.  Even today there are no Portuguese musical groups popular in Brazil and definitely no Portuguese films known by the public.  
Most Brazilians, who have any opinion at all, and we are talking about educated people living in cities with access to internet and who read, still consider Portugal to be a rather old-fashioned, traditional, mono-cultural people with an unintelligible way of speaking.  Few Brazilian are aware of the state of the art expressways, the advanced telephone and internet system, the gigantic hypermarkets and shopping centers etc.  Portugal underwent a radical transformation in the nineties with EU money and left Brazil behind in many ways. 
As far as the Portuguese jokes are concerned, my theory is that they are based on the typical Portuguese immigrant who arrived in the fifties and sixties from Tras-os-Montes, who was usually illiterate, had a moustache (often men and women), dressed poorly in sombre colours, often wore tamancos (wooden clogs), had poor personal hygiene, and worked in lowly professions such as itinerant vendor, butcher, barkeeper,  or baker.  They stood out in Brazil and were often laughed at until soon many of them became quite rich, having saved and saved, often sleeping on boards in their shops.  Soon they were the bosses and the natives were their employees.

One aspect of the Portuguese I noticed coming from Brazil was their literal-mindedness and their inability to think outside the box.  My first shock was how Brazilian humor fell flat on the listeners.  There was little awareness of language play or criticism of the powers that be.  There was, and there still is, a reverence for power and those who have a degree.  Someone who has finished university is called a Doctor, and not doing so might even cause serious problems for the interlocutor.  Even a politician like José Sócrates, indicted for corruption and sitting in a jail cell, is called Sr. Engineer, even though his degree was fraudulently obtained. 

A final point to be mentioned to show the cultural differences is the Portuguese negativity.  The Portuguese complain a lot, usually doing nothing about it.  While a Brazilian will respond to the question "Como vai"? with "Tudo bem" or "Muito bem" a typical Portuguese response is "Vou andando" (lit. I am walking).  Common expressions are "É a vida" and "Tem que ser".   There is a fatalism reflected in the language.  That you do not see in Brazil.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Interlúdio (35) 

Dos escribas 


Andava eu aqui às voltas tentando escrever qualquer coisa naquela de  dizer que estou vivo e não me saía, não sai, nada de interessante. Lembrei-me do inefável Camilo Castelo Branco que recebeu muitas vezes adiantado dos editores sob promessa de entregar os escritos em data marcada, compromissos reiteradamente falhados por falta de inspiração. Assaltou-me, simultaneamente uma pena genuína dos escribas dos jornais que regularmente têm de apresentar trabalho que se veja; mas tal é a pressão e a auto-censura que o resultado está à  vista. As notícias ou são do tipo tablóide, sensacionalistas e exageradas, ou são do tipo expresso que dá para passar pelas brasas aos sábados à tarde. Não havendo nada mais de escrito a acrescentar, deixo aqui uma marca de arte fotográfica pobre mas personalizada. Vejam só como a sombra se pode sobrepor em importância ao objecto subjacente e como pelo comprimento desta se pode saber a altura do sol. Áh! Se houver sol. Pois.



domingo, 29 de janeiro de 2017

Interlúdio (34) 

Desejaria que o mensageiro tenha empolado a mensagem
Mas que o MG andou mal, andou.
...


quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Interlúdio (33) 



terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Interlúdio (32) 

Gosto da escrita de Rita Ferro. Usa bem as palavras e congemina enredos que prendem o leitor. Recordo e releio o seu Vestido de Lantejoulas que mostra de como é  ténue a diferença entre a Senhora e a criada. Às vezes basta um vestido para esbater, se não anular, a distância social.
Estou expectante em ver como se sai neste romance sobre o seu avô, figura controversa do estado novo. Conheço alguns feitos deste avô. Será, afinal, mais do que Ministro da Propaganda de Salazar? Se a Rita Ferro me conseguir dizer que sim ainda fico a gostar mais dela. 

Interlúdio (31) 

A pós-verdade 

Chegados aqui perguntamo-nos com frequência o que fazemos cá. A pergunta que atravessa a humanidade desde sempre chegou até nós pela palavra dos filósofos. As respostas foram sendo dadas no contexto das eras em que viveram os pensadores, mas nunca as dúvidas foram, talvez, tão contraditórias como as que hoje nos servem os poderes. Os poderes apresentam-se difusos e adormecidos para só  actuarem nas fases em que a hortodoxia vigente é  violada. Há festejos e encenações sobre os mais diversos pretextos no intuito pouco óbvio, para o vulgo, de que a felicidade está à disposição de cada um. Pouco importa que os ingredientes do bolo sejam desajustados, serve assim, se for flácido o bolo deixa de o ser, serve-se como pudim. É a pós-verdade. 




sábado, 10 de dezembro de 2016

Vida oito 

Chegou o Renascimento com esplendor.
Saído para o sol envergonhado
com o lagarto que vestia por igual
o jeitoso e o andrajoso e os que tal
assim nunca se tinham aperaltado.
Debutante num primeiro de agosto
num escritório, muita praxe a receber
tendo embora humor, ia além do gosto
mas que era menos mau do que o perecer.
A corrida a escola p’ra ir em frente
revelou-se tarefa monumental
aqui não temos vagas ali talvez
em S. Amaro conseguiu-se enfim vez.
Faltava então o tempo o tempo o tempo
que pouco sobrava para dormir
gasto em longas horas de ir e vir
e as manhãs ainda breu, um tormento.
No outro inverno veio a escola do chiado 
e um ensino com fama conhecida
que despertou em mim o morto fado
de que aprender é coisa divertida.

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sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Interlúdio (30) 

O fogo 


Talvez os primeiros filósofos, os fisicistas, tivessem razão quando, por fim  concordaram, que a natureza era feita de terra, fogo, ar e água. Tudo o que existe é composto por estes elementos físicos. É claro que depois vieram outros, outras escolas a mostrarem outras combinações de elementos. Muitos séculos depois Leibniz diz que  matéria é formada por mónadas (que alguns dizem que são os átomos). Separados por tantos séculos estes filósofos não estão em contradição, como a física quântica não contradiz a física clássica. Explica-a. Vêm-me estes pensamentos à superfície porque o fogo, um dos elementos, me fascina. Não o fogo dos incêndios, está bem de ver, mas o fogo da lareira. As chamas, as cores e a subtileza das formas, o ímpeto inicial do fogo e a modorra das quase cinzas. O barulho latente, preguiçoso, sem outra definição possível. E  a calma que estas combinações me trazem. Calma quase sono e o  cuminar do quentinho a contrastar com os cinco graus de lá de fora. O inverno, quando se porta bem, pode ser um bom companheiro.


terça-feira, 22 de novembro de 2016

Interlúdio (29) 


Lazer

Há sítios em que vale a pena estar. Pela forma de receber, pela gastronomia, pela companhia e sobretudo pela envolvente natural. Não simpatizando eu com o turismo de habitação, com agro turismo e o agora mais moderno airbnb, fui ainda assim parar a um acolhedor turismo rural , de seu nome Pé do Monte, na Costa Alentejana, em S. Teotóneo, que tem um ajustado “value for money”. Fica o meu testemunho.

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Interlúdio (28) 

O mundo ao contrário 


Na Europa a economia portuguesa, Portugal no seu todo, representa pouco, muito pouco.

Mas dá um jeito do caraças aos eurocratas desviar as atenções e invocar qualquer coisa acerca de Portugal em momentos de tensão  internacional, e fazem isso como que justificando um trabalho árduo e rigoroso. É mais do que certo que estamos na euro-berlinda quando a máquina precisa de "encher pneus". Então aquele rapaz do Eurogrupo que é "chefe", aquele que também se enganou a descrever o seu CV académico, é exímio a dizer que as regras são para cumprir. Pena que seja só cá para o rectângulo.

Os funcionários não se viram para a França porque a França é a França, dizem eles. Sobre os países do Báltico nem uma palavra, dariam razões a Putin para os resgatar. Sobre Itália, Espanha e outros, não, porque são grandes economias sem serem economias grandes. Pronto. Até aquele alemão que trata do orçamento lá do país dele se permite dizer que dantes é que Portugal ía bem, como se a questão da indústria automóvel (VW, Audi, BMW,...), escândalo recente na sua casa, não fosse razão suficiente para se entreter. É sempre bom haver um marreco no grupo. Quando não há marreco marreco chama-se marreco ao tiver a ecoliose mais pronunciada.


segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Interlúdio (27) 

Serra do Açor 


Os dias de Outono são por demais estimulantes. A temperatura do ar é, por norma, amena, a natureza pinta-se e veste-se das mais variegadas cores e roupagens. É o auge da criação na mais colorida expressão.

É tempo de voltar às origens e no vale suave criado na misteriosa poliformia do princípio das coisas, na Serra do Açor, olhar. Olhar e ver o que já foram vilas e aldeias a pulular de gente, que de repente, agora, estão desertas.
Setembro já lá vai, os veraneantes voltaram ao trabalho ou à procura dele. Os rios vão deixando correr em murmúrio as águas e as mágoas numa quietude envolvente que ajuda ou obriga  à meditação. O sítio é a Serra do Açor com a Serra da Estrela ali ao pé a prometer frios e gelos na invernia próxima, ventos que enrigessem e regeneram o corpo e a alma. Por agora faz favor de entrar senhor Novembro.


quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Interlúdio (26) 

Os meus cães instrumentais 


Duas vezes por dia dou uma saída com os meus cães. Sou tão amigo dos animais que nem sei a raça deles, são três, dois brancos, pequenos, com um pêlo semelhante a ovelha e outro grande e acastanhado como um carneiro de cobrição. No passeio da manhã, cedinho, enfio umas calças, calções no verão e uma camisola ou ticharte. Roupa confortável do corte inglês, bem cingida ao meu corpo que conserva ainda uma frescura jovial. Ar desgrenhado, cães pela trela, corpo esbelto, sigo para o objectivo. Não, não é levá-los à rua para o xixi e có có, é procurar as vizinha que também têm este gosto. A do cãozito rasteiro e orelhas rastejantes e a viúva da praceta que ostenta um garboso pastor alemão. Tiro as coleiras aos bichos que logo se envolvem bem brincadeiras carinhosas com os das vizinhas, coisa que dá o mote às nossas conversas e nos distraem da desculpa das necessidades dos lindos animais. Não sei onde cagam ou mijam, detalhes para os puristas do ambiente. Meia hora de conversa com com violinos em fundo. Assobio para os canídeos, reunidos volto a casa, atrasado e a pensar no trânsito da segunda circular, com conjecturas para o passeio da noite. Sim a viúva é mais sensível à noite; a do cão rasteiro já me falou em levarmos os animais até Sintra. Vamos ver.  Da limpeza dos dejectos nem nos lembramos. Afinal pagamos impostos, algum funcionário há-de tratar disso. A relva vai ficando amarela mas a culpa não é dos meus três. Há outros, muitos, outros grupos com o mesmo propósito de conviver amando. Os animais! (Acho que esta pontuação final está errada. Ou talvez não)

🐩🐩🐺



sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Interlúdio (25) 

Encontro de Alumni

-Agora não, que falta um impresso... -Agora não, que o meu pai não quer... -Agora não, que há engarrafamentos... -Vão sem mim, que eu vou lá ter...

(Dos Deolinda)



segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Interlúdio (24) 

Jorge Palma

Há pessoa que passam tangentes à vida quando poderiam estar dentro do círculo com grande facilidade. Jorge Palma é um artista muito acima da média no panorama artístico nacional. Escreve letras em português suave e canta com entrega (aquilo a que os ingleses chamam "delivery"). É um pianista que vai dos clássicos ao jazz. A guitarra nas mãos dele é coisa de brincar, dela tira todos os sons de todas as melodias. Contudo, lá vai andando com a cabeça entre as orelhas. É um dos artistas que me faz desviar o percurso para o ouvir. Ai Portugal, Portugal ...🎶🎶




sábado, 24 de setembro de 2016

Interlúdio (23) 

Quando Pessoa é a nossa pessoa 

Quando vier a Primavera, 
Se eu já estiver morto, 
As flores florirão da mesma maneira 
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada. 
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme 
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma
Se soubesse que amanhã morria 
E a Primavera era depois de amanhã, 
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã. 
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo? 
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo; 
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse. 
Por isso, se morrer agora, morro contente, 
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem. 
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele. 
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências. 
O que for, quando for, é que será o que é.

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos" 
Heterónimo de Fernando

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Interlúdio (22) 

Uber ou construir muros quando sopram os ventos


A mudança chegou também aos transportes e a sectores em que era impensável que viesse a acontecer. Os táxis têm os dias contados. Os dias será exagero, mas estão a prazo. Experimentei o UBER, essa bomba silenciosa que vai alastrando no território dos táxis e de outros meios, como as limousines para turistas , carros de aluguer e toda a sorte de veículos mais utilitários ou mais luxuosos que hoje existem para uso casual. Vão provavelmente deixar de existir.

Da UBER, a minha experiência foi muito positiva. A plataforma apresenta no telemóvel um mapa com o local em que o utilizador se encontra; e num segundo momento apresenta um campo para que se preencha o local de destino, por exemplo, Terminal 2. Faz de imediato uma estimativa da duração da viagem e do custo, sendo que aqui apresenta três opções de viatura: baixa, media e luxo. A pessoa escolhe o que pretende, e no telemóvel surgem os veículos que, de acordo com a escolha, se encontram mais perto bem como o tempo que cada um levará a chegar ao ponto de recolha. Escolha feita são exibidas as características da viatura, a matrícula, o nome do motorista e o ranking atribuído até ao momento pelos clientes, de 1 a 5, sendo 5 a melhor classificação. Chegado rigorosamente no tempo estimado, o motorista arrumou eficazmente as malas no porta bagagem, iniciou a viagem, sempre com o percurso a ser exibido num écran, percurso semelhante ao que se pode conferir no nosso telemóvel. No ponto de chegada repete-se o ritual, retira as malas que arruma ao lado da viatura e diz adeus. Pagamento, gorjetas, extras? nada. O valor da viagem é de imediato facturado, enviado por email e debitado via cartão de crédito.


Uma nota, o carro estava impecavelmente limpo no interior e no exterior, sem cheiro a tabaco e sem música. Ainda iniciei conversa sobre o eterno tema que não aquece nem arrefece, o tempo, mas a resposta foi "pois é!".

Nota dois, no telemóvel surgiu um ou dois minutos depois da viagem terminar um conjunto de 5 estrelas em branco ao lado da fotografia do carro e do condutor, para ser feita a avaliação. 5 estrelas, claro. Contudo alguns clientes terão sido mais exigentes porque a média, que também é exibida, era, naquele caso, de 4,7 estrelas.

Nota final, o cliente também é avaliado, o que acrescenta alguma segurança a todo o sistema, inclusive, aos condutores nestes tempos de alguma violência.

Portanto, compreendendo embora os protestos dos nossos taxistas, sou de opinião que há aqui alguns, bastantes, ajustamentos a empreender no sentido de voltarmos a ter, por algum tempo mais, taxis e taxistas com qualidade, a preços justos e sem darem mais aquela volta quando não conhecemos o percurso. 

A talhe de foice sempre vos digo que o meu pai foi taxista. Fazia, no seu tempo, transportes de muitos quilómetros com um carro puxado por dois bois.



quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Interlúdio (21) 


Suíços

É verdade que o cumprimento rigorosos dos horários é quase uma religião Suíça. Conhecida pelos relógios de elevada precisão, é também no cumprimento ao minuto dos horários dos transportes que o país se distingue. Este é realmente diferente da maioria dos povos, neste particular. Mas nunca me teria passado pela cabeça que o prazo de validade de uma água mineral fosse medido ao minuto. Veja-se o exemplo desta água que estou agora mesmo a beber nesta tarde tórrida em Zurique, numa esplanada pejada de turistas, a rebentar pelas costuras. Será, a dita água, inexoravelmente retirada do mercado às 17 horas e 54 minutos (talvez mais um segundo) do dia 21 de Julho de 2017. Esta não que vou bebê-la. Só mesmo dos suíços.


quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Interlúdio (20) 

Praia do Amado

Widely known as one of the top surfing spots in Europe, Praia do Amado Algarve region, is a popular hangout for all seasons. Praia do Amado beach is also a regular host to several surfing and body-boarding competitions, including local and international surfers. There is a surf camp offering vacation programs, conducted by the beach’s own surf school, making full use of the natural swell conditions along this west coast of Portugal.
With dark-coloured cliffs overlooking the picturesque Praia do Amado beach, this vast stretch of sandy coast welcomes many people, especially during summer and holiday periods. All necessary amenities including food outlets and shops, selling beach gear, are readily available to serve surfers and nature lovers attracted to the area.
Surfers busy improving their skills on the Atlantic waves, are a common sight at the Praia do Amado beach. Beach enthusiasts who choose to amble a short distance towards north of this broad expanse of soft sand, will be delighted to discover beautiful stones in various hues, ranging from pink, ochre, green and back of different swirls designed by nature.
Despite its remote location from the main towns, Amado’s Algarve region is easily accessible. Its a hassle-free 30 minutes ride southwards, about 20km from Aljezur, one of Algarve’s rustic towns. The nearest village Carrapateira, also has direct scenic route, above the cliffs, to Praia do Amado beach.


Instalação by me

Interlúdio (19) 

Ao Sul


Desde há muito que me afeiçoei a esta bebida entre o amargo e o doce, entre o gelado e o quente torpor. Gin. Era nos fins de tarde em Abrantes que os naïves aspirantes a oficial se reuniam para a celebração diária daquela liturgia inefável (vão ao dicionário, se houver aqui alguma palavra menos acessível) de degustar  lentamente o sabor a lima, limão ou laranja da bebida eleita, o Gin. Depois, já na guerra, na ração mensal de bebidas para esquecer, a logística fazia chegar aos oficiais entre outras iguarias como drambuie,  vodka Moskovskaya , whiskey velho e novo, o tanqueray, esse Gin - que merece a letra grande que o teclado insiste em não me deixar corrigir -, por me deixar feliz e atordoado bebido em maior quantidade devido à falta de gêlo, da água tónica e dos botânicos, esses comparsas do embelezamento. A guerra tinha aspectos positivos.
Hoje o Gin está na moda. Muitas marcas, bons sabores, preparação mais ou menos complexa. O último que saboreei é meio portugues meio alemão. As plantas a destilar são colhidas no sudoeste Alentejano, vão a Hamburgo sofrer a destilação e voltam neste néctar de sabor divinal. É este o tal,


Numa tarde de um dia de Agosto, de muito calor, frente ao mais belo pôr do sol do mundo, na costa alentejana que lhe emprestou as matérias primas, o Gin Sul devolve-nos o bem estar que um mortal merece. Momento zen.


sábado, 27 de agosto de 2016

Interlúdio (18) 

O fascínio das cores 

A alegria do ambiente e a barafunda próprios dos mercados tradicionais devem-se muito às cores e cheiros dos produtos. Este é o mercado de Aljezur, que conservando embora muitas das características locais tem uma nova: muitos dos vendedores são estrangeiros radicados. A diversidade do exposto nas bancas é impressionante. A simpatia do trato, idem.


quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Interlúdio (17) 

Quando esperar é desesperar. Onde está Wally?


domingo, 24 de julho de 2016

Interlúdio (16) 

Adília Lopes, 2 poemas da Adília, a irreverente.



quinta-feira, 7 de julho de 2016

Interlúdio (15) 

A turma da Ericeira

A mesa foi desde cedo substituída por uma mais adequada para chegar para tantos. A cabeceira cabia ao Avô, o resto da distribuição era ao calhas.  O normal era sermos dez, que nas pachorrentas tardes de domingo, fazíamos arrastar o almoço pelo tempo que justificasse não ir à praia. Contava-se a semana anterior, falava-se do último Expresso, divergíamos nas soluções para o país, e acabávamos à sombra do alpendre em conversa com a vizinhança que ia chegando. Os miúdos faziam-se às costumeiras brincadeiras. Carrinho de esferas numa louca descida  da ladeira para o mais ousado e bicicleta para o mais cauteloso. Os adultos com pernas frescas davam longos passeios pelos trigais adjacentes que ainda não tinham sido tomados pela louca e desordenada construção que um tal presidente de câmara "apadrinhou". 
Hoje. Hoje, a casa ali está. Sem vida, abandonada. O Avô longe dela, numa capela, aguarda sem vida as últimas exéquias. O mais afoito, longe na Austrália, zangou-se com o país. O mais comedido, longe em Zurique, amuou com o país, vem de emergência. Uma das da mesa está a restabelecer-se de uma intervenção cirúrgica  de ontem, outra aguarda por segunda feira para uma intervenção menos agressiva. A Avó levita, tipo Magoo, entre o emaranhado de tanta confusão. 
A mesa não voltará a competir em barulho e risos com os inquilinos do fio telefónico que passa sobre casa. Aí bandos de pássaros ainda se juntam num chilrear já sem competição. A casa é quase deles. O Avô acabou ontem, e com ele um décimo de nós todos. Dos da mesa.

sábado, 2 de julho de 2016

Interlúdio (14) 

O Choque do Futuro 

Alvin Tofler morreu. Para ele significa nada. Para os que o admiram, admiravam?, significa muito. O nosso prof. Eduardo Lourenço diz que quando morre um dos nossos é como se morresse uma parte de nós e assim vamos morrendo aos poucos. Tofler anteviu os dias de hoje, na forma e no conteúdo. Na altura a gente lia e ria. Era ficção científica o que se lia em Choque do Futuro, dizia-se. Não era. Aí está esta  realidade com todo o esplendor da grandeza prevista. Quando o futuro de Tofler já é passado e vamos todos chegar a um tempo em que as máquinas farão tudo o que hoje sabemos fazer, com fortunas colossais para quem detiver os cordelinhos das novas "coisas" disrruptivas e o resto a viver de subsídios dados pela Administração. Subsídios que virão dos impostos que a empresas virtuais forem obrigadas a pagar, na parte não ocultavel. É esta velocidade de mudança que nos impedirá de ficarmos num patamar durante o tempo que nos era familiar. Daí ao caos é um o passo de um anão. Vou reler Tofler que há 40 e tal anos me pareceu um charlatão (e eu já andava pela tecnologia). Mea culpa.

quinta-feira, 30 de junho de 2016

Vida sete 

Vieram depois mais séculos assim
Lentos na agonia de uma disputa
Entre o querer saber e a ignorância
Perdendo a inocência da infância
Mas sem nada mais para a preencher
Foi assim saltando entre receios
Que entre aulas sem fim e curtos recreios
Se foram derrubando as barreiras.
Cada ano, século, era uma batalha
Vencida à bruta, sem maneiras
Sabia só que sair ileso
E depressa da guerra de tantos séculos
Era o fito que retardava o adormecer
E logo agarrado ao acordar
Ar, ar, ar 
A falta dele era então o estímulo 
E em cada ano, século, que (se) passava
Via-se ao fim do túnel a claridade
Por que desde a Casulo ansiava.



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quarta-feira, 29 de junho de 2016

Interlúdio (13) 


Proud of my son. One of the finalists!

In April, was launched the UBS Grand Challenge. The aim of the competition was to find innovative financial approaches to help address some of the biggest challenges facing society today.

Over 1,200 employees across the globe joined the challenge, making up over 300 teams, across all business divisions and regions. Together with CGD (Centre for Global Development) the UBS narrowed down the 245 proposals that were submitted, to the six finalists.

The final six teams will pitch their ideas to a committee of internal and external experts at the Global Final event on June 29, 2016 in Zurich. 

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Interlúdio (12) 

Quando estavam 50 graus às 16 h no meu canto alentejano 


O VALIOSO TEMPO DOS MADUROS
Poema de Mário de Andrade
 
Contei meus anos
E descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente
Do que já vivi até agora
Tenho muito mais passado do que futuro.
Sinto-me aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas.
As primeiras ele chupou displicente,
mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram,
Cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis,
para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias
que nem fazem parte da minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas
que apesar da idade cronológica, são imaturos.
Detesto fazer acareação de desafetos que brigam pelo
Majestoso cargo de secretário geral do coral.
As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência,
Minha alma tem pressa...
Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana,
Muito humana; que sabe rir de seus tropeços,
não se encanta com triunfos,
não se considera eleita antes da hora,
não foge da sua mortalidade.
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade,
O essencial faz a vida valer a pena.

 
"AMIGOS NÃO SE DESPEDEM,MARCAM UM NOVO ENCONTRO" 


sexta-feira, 17 de junho de 2016

Interlúdio (11) 

Racionamento no pós guerra

Os tempos vão maus. Contudo,ao contrário do que pensam alguns conservadores, já houve outros muito piores. Para quem defende que antes  do vinte e cinco do quatro é  que era bom, deixo o testemunho de um Portugal terrível, de fome, do racionamento. Alguns meses depois do meu nascimento os Serviços de Racionamento exararam uma pequena nota, validada com carimbo a preceito, na contracapa da cédula de nascimento que atesta a minha chegada a este mundo.
Nota e carimbo que davam direito a que a família pudesse receber mais alguns, poucos, géneros como açúcar, arroz e massa. A segunda guerra mundial tinha terminado três anos antes. Em Portugal havia racionamento, ainda que não tivesse entrado na guerra e tivesse inicialmente rejeitado ajuda americana. Um mês depois desta nota inscrita na minha cédula o país  aceitava o apoio do Plano Marshall.


quinta-feira, 2 de junho de 2016

Interlúdio (10) 

Chegaram os lírios roxos aos campos do Alentejo. Atrasados este ano por causa das alterações climáticas mas, ainda assim, demonstrando enorme paciência com a delapidação humana que está na base dessas alterações.
Entretanto por agora ainda vale o que diz a cantiga...

 Meu lírio roxo do campo,
Criado na Primavera,
Desejava, amor, saber,
Ai! Ai!
A tua intenção qual era.
A tua intenção qual era,
Qual era o teu proceder,
Meu lírio roxo do campo,
Ai! Ai!
Quem te pudesse ir colher!
Quem te pudesse ir colher,
Oh! meu amor, quem me dera!
Desejava, amor, saber,
Ai! Ai!
A tua intenção qual era!

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Interlúdio (9) 

São os meus ícones. Estes dois elementos que encontrei na reposição dos objectos, depois de obras longas, fazem parte da minha estória. O livro é de Samuelson e foi nos anos sessenta uma lufada de ar fresco no panorama do ensino de economia, provavelmente não só em Portugal. Depois de se ver a economia pela via dos modelos matemáticos de Pereira de Moura, que obviamente eram redutores e abstratos, via-se a explicação correspondente no livro que a Gulbenkian, em boa hora  publicou. 
Para desenvolver esta actividade de estudante precisava de suporte financeiro. O cartão de 80 colunas, era, ao tempo, usado na informática para registo de dados. E foi com estes cartões e com a programação de quase código máquina que fui trabalhando, vivendo e pagando as propinas. Que não eram baratas. 

domingo, 15 de maio de 2016

Interlúdio (8) 

Dias chuvosos. Trovoadas semelhantes às impressionantes que tive a desdita de conhecer em África, com raios a faiscar em ziguezague policromático sobre o zinco das casas. Uma ou mais pessoas eram contempladas com a morte por um raio na época das chuvas. Aqui, e aqui é Alentejo interior, mal começam a ribombar os trovões as comunicações népia. Alguns dos dispositivos eléctricos demitem-se e a TV, por satélite (coisa fina), cala-se. Para se redimirem dos inconvenientes causados e estes sacrificados cidadãos, que se assustam com tais procederes e elementos da natureza, os deuses obsequiaram, ainda nāo havia passado meia dúzia de dias, o Alentejo com uma corbeille de malmequeres e papoilas que dão vida à vida. Condição sine qua non, não usar herbicidas, especialmente aquele de nome esquisito, da Monsanto.

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